quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Processo

O início é sempre agreste; não há como evitar a sensação de que estamos esburacados. Alguma coisa muito grande foi arrancada, porque os vazios são imensos e irrevogáveis.

Volvido um tempo, as ausências passam a ser geridas como definitivas: é assim e pronto, não vale a pena bater mais no ceguinho. Não é que alguma coisa esteja lá para as cobrir; nada as faz desaparecer... é como pertencer a lado nenhum, a memórias nenhumas; a ninguém.

Mas depois


muito lentamente



mesmo devagarinho, sem se dar por nada,





 Os caminhos passam a ser mais nossos,

 Os mimos inusitados 

 têm um sabor diferente; mesmo quando não se destinam a nós.


 E, de repente, até há coisas meio parecidas àquelas da nossa terra...

As rotinas aprofundam-se, os caminhos decoram-se, as paisagens entranham-se nos olhos, nos poros...


Não é uma substituição; 
não é uma habituação. 

É um amor novo, a rodear os vazios com delícias, 
pequenas gratidões a nutrir um coração escavachado pela saudade.


Esse processo que é a Imigração.

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