Meia-noite e lua cheia.
Procuro recolher e ordenar cada retalho que deixaste no quarto.
Partiste o vaso com o cotovelo, sem querer, e desarrumaste o tapete.
Deixaste também um sorriso nos meus lábios, e um bem-estar no meu peito.
Tento repor tudo. Varro os cacos do vaso do chão, e ajeito o tapete com o pé, sacudindo-o de qualquer vestígio que lá possas ter deixado.
Os cacos foram postos no lixo e o chão do quarto já está direito, mas ainda não parei de sorrir.
Ainda não me esqueci de como te vi entrar quarto dentro, de rompante e sem pedir licença, a desarrumar tudo porque te apetecia.
Só quando partiste o meu vaso preferido sem querer, é que te ajoelhaste e pediste perdão, e desarrumaste o tapete.
Era meia-noite, e a lua estava cheia. E os teus olhos brilhavam como nunca tinha acontecido, a tua tez tinha uma textura extremamente agradável, e os teus lábios só proferiam as palavras certas nas alturas certas.
Nesse momento, só queria ajoelhar-me contigo e abraçar-te durante um período de tempo indefinido, e ficar ali, no tapete do quarto, a agradecer-Lhe ter-te inventado, enquanto te acariciava a face.
Ao invés disto, aceitei os teus pedidos, ergui-te e encaminhei-te para a porta do quarto.
Tu ainda relanceaste um olhar, e estive mesmo quase a ceder aos encantos dessas pedras jade, mas mantive-me firme e após ter fechado a porta, ainda a tranquei.
Sabia que pelo menos naquele momento, à meia-noite de lua cheia, os nossos seres não seriam tentados a avançarem para áreas que não lhes pertenciam, e manter-se-iam no seu devido local.
Resta saber se, das próximas vezes que resolveres entrar quarto adentro para tudo desarrumar a teu bel-prazer, serei capaz de me manter fiel ao espaço circunscrito ao meu ser, e trancar a porta.
Era meia-noite, e a lua estava cheia. E tão cheia como a lua, estava eu de ti. Cheia de ser forte e com vontade de enfraquecer. Sem o poder fazer.
Resto de um bom dia*