domingo, 25 de fevereiro de 2007

(Sem efeitos nenhuns . E sem nome também )

Meia-noite e lua cheia.
Procuro recolher e ordenar cada retalho que deixaste no quarto.
Partiste o vaso com o cotovelo, sem querer, e desarrumaste o tapete.
Deixaste também um sorriso nos meus lábios, e um bem-estar no meu peito.
Tento repor tudo. Varro os cacos do vaso do chão, e ajeito o tapete com o pé, sacudindo-o de qualquer vestígio que lá possas ter deixado.
Os cacos foram postos no lixo e o chão do quarto já está direito, mas ainda não parei de sorrir.
Ainda não me esqueci de como te vi entrar quarto dentro, de rompante e sem pedir licença, a desarrumar tudo porque te apetecia.
Só quando partiste o meu vaso preferido sem querer, é que te ajoelhaste e pediste perdão, e desarrumaste o tapete.
Era meia-noite, e a lua estava cheia. E os teus olhos brilhavam como nunca tinha acontecido, a tua tez tinha uma textura extremamente agradável, e os teus lábios só proferiam as palavras certas nas alturas certas.

Nesse momento, só queria ajoelhar-me contigo e abraçar-te durante um período de tempo indefinido, e ficar ali, no tapete do quarto, a agradecer-Lhe ter-te inventado, enquanto te acariciava a face.
Ao invés disto, aceitei os teus pedidos, ergui-te e encaminhei-te para a porta do quarto.
Tu ainda relanceaste um olhar, e estive mesmo quase a ceder aos encantos dessas pedras jade, mas mantive-me firme e após ter fechado a porta, ainda a tranquei.

Sabia que pelo menos naquele momento, à meia-noite de lua cheia, os nossos seres não seriam tentados a avançarem para áreas que não lhes pertenciam, e manter-se-iam no seu devido local.
Resta saber se, das próximas vezes que resolveres entrar quarto adentro para tudo desarrumar a teu bel-prazer, serei capaz de me manter fiel ao espaço circunscrito ao meu ser, e trancar a porta.

Era meia-noite, e a lua estava cheia. E tão cheia como a lua, estava eu de ti. Cheia de ser forte e com vontade de enfraquecer. Sem o poder fazer.



Resto de um bom dia*

terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

Andreia Barreiro, Sara Duarte, Sara Gaspar, Raquel Silva



Hoje foi um dia bonito.
Aliás, é sempre bonito partilhar vivências com aqueles que amamos e que nos são próximos.
Não há muitas maneiras de descrever esta cumplicidade que temos, cada uma à sua maneira, umas com as outras. A nossa relação é extremamente completa: inclui divergências, pontos de vista partilhados, variadas experiências, quarenta e sete milhões de toneladas de respeito, e amor. Sobretudo o amor, a maior de todas as coisas.
São estas realidades, que as pessoas tomam por pequeninas, que nos preenchem até ao tutano e nos colocam um sorriso no rosto por um período de tempo indefinido.

“Será que ainda vamos estar assim quando formos velhinhas?”

Claro. Claro que quando formos velhinhas, nos vamos procurar, passar horas em transportes para nos encontrarmos, passear ao frio e tirar fotografias ao luar, sentarmo-nos numa esplanada e conversar sobre assuntos desprovidos de interesse e sobre assuntos sérios.
É claro que quando formos velhinhas ainda vamos limar as arestas umas das outras, subtil e carinhosamente, ainda nos vamos preocupar e dizer coisas que só se tornam significativas passado algum tempo.
É tudo bastante claro, porque quando estamos na presença de algo forte e puro (como o ouro), não duvidamos sequer por um momento que esse algo é eterno.

E isto, parece-me a mim que é bastante eterno. Para ficar guardado nas molduras ou numa caixinha de recordações, até depois da morte.



Um beijinho*




sábado, 17 de fevereiro de 2007

Boneca.



A sociedade de hoje descarta e desvaloriza a responsabilidade.
Destrata a palavra, invalida a honra, desconhece a confiança.
A começar naqueles que presidem a nação, e a acabar nos papás e mamãs que, ou não transmitem esses valores aos filhos, ou se comportam como se nunca lhos tivessem ensinado.
É um ciclo vicioso e negativista, que nos envolve e nos conduz a decisões desacertadas e desprovidas de reflexão.

Ponto final.





(de dia 15 de Fevereiro do presente ano)





Um Beijinho*

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

Fita de Cetim


Ao conter todas as emoções numa caixa, algures no armário do meu ser, não me é licito traduzi-las; (re) expressá-las em vocábulos perceptíveis (até) à minha pessoa.
Quando tento, as palavras entalam-se na garganta, querendo sair todas de uma vez só, para que a percepção de determinadas realidades doa menos.
Não há como controlar as malandras, que instalam a balbúrdia e desordem na estrada que as conduz para o exterior, para o mundo audível ou visível em que nos encontramos.
Ao quererem tanto sair atabalhoadamente, acabam por se entalar ou atropelar, acabam por perder a paciência na tentativa frustrada que é fazerem-se ouvir; e nisto desistem.

Cada passo dado, cada hora atravessada, cada respirar, tem sido uma aprendizagem estrondosa e inesperada. Cada pequeno momento passou a ser um local de reflexão, de decisão. Passou a ser um local onde a quietude é desconhecida, pois as transformações são vulcões extremamente activos, que cospem lavas quentes e geradoras de queimaduras dilacerantes.
Depois disto, e através dos gases formados por tantas erupções, vêm as nuvens, e água que inunda, que limpa, que acalma e reage em equilíbrio com todos os compostos formados; de modo a que a lava outrora liquida e marcadamente escaldante, arrefece e solidifica. Transforma-se num solo propício a plantações de novas e frescas sementes; transfigura-se, converte-se em terreno fértil e seguro, conveniente para o amadurecimento de novas ideias e sonhos.

Dadas as circunstâncias, há que saber esperar. Esperar que a época de vulcanismo intenso atinja o seu termo, para que o meu ser repouse e amadureça tantas ideias, conceitos, constatações, sonhos, aspirações. Pode ser que nessa altura eu me dirija até ao armário secreto do meu ser, inspire bem fundo e destranque as palavras guardadas na caixa. Pode ser que as solte e as deixe correr, saltar, brincar, pular por cada recanto de mim. Com certeza que, devido ao seu carisma maroto, atrevido e verdadeiro, elas irão desarrumar a ordem em que me encontrava, partirão alguns objectos de carácter quebrável, abrirão as portas e janelas (que causarão correntes de ar, provocarão alarido e deixarão entrar o sol e o luar). Pode até ser que acordem uns quantos vulcões.

Ainda assim, no tempo certo, eu encaminharei os meus passos para essa caixa e soltarei as palavras que escondo; deixando-as fazer aquilo que lhes compete.
Quem sabe se elas não encontrão a ordem correcta para saírem de mim e se dirigirem até aos teus ouvidos, de modo a que possas escutar o que os meus olhos calam há tanto tempo; de maneira a que o meu verdadeiro sentimento se expresse sem receio de sofrer represálias, sem sentir embaraço de respirar pela existência da tua pessoa.

Quem sabe se um dia elas não falam por mim, e repetem que ainda penso em ti, que ainda me provocas desconforto, arrepios, borboletas, sorrisos, memórias, quente, frio, e tantas, tantas, tantas sensações imprecisas e controversas.

Como eu gostava de soltar já as minhas palavras, e depois soltar-me para te encontrar.





Bom resto de dia*




(Temos uma nova colaboradora)