domingo, 17 de outubro de 2010

Do viver numa bola de sabão

Um dia poderei viajar como me aprouver, de comboio, de auto-caravana, de avião, de autocarro, de jacto privado, de carro ou de bicicleta, e ir sempre ter ao lugar onde quero realmente estar. Um dia poderei dar-me ao luxo de não sentir saudades das paisagens, dos amores, dos ventos, dos cheiros e das poeiras, simplesmente porque assim que o coração começar a contorcer-se de incómodo eu poderei, num piscar de olhos, acabar com tais apertos. Um dia serei capaz de aparecer de surpresa perto de quem quero, esteja onde estiver, e abraçar longamente, sem vontade de largar. Um dia vou voar como o coração ordena, e viver nómada, e sorrir ao sentir-me a chegar muitas vezes. Para não dar conta que os meus amores vivem todos dispersos por esta bendita Terra, e para chegar é necessário, primeiramente, partir.



Knock, knock!

Who’s there?

Reality, just cheking in!

sábado, 16 de outubro de 2010

Apontamento (4)

Entro no embalo da canção que fez alguém pensar em mim, e sorrio “até com o fígado”. Estou constantemente tão rodeada de amor, de mimos espalhados em redor da minha alma, de afectuosos pedidos de quem me quer por perto e de quem nunca me deixa cair no esquecimento. Já antes havia ouvido: quem semeia colhe. Falando honestamente, eu nunca semeei para colher; é um acto quase automático, “só sai”. E mais: eu nunca esperei que a colheita fosse tão farta e vasta e bela.

Esta minha existência é muito abençoada.


Ao som de (clicar aqui)

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Trabalho de Sísifo (ou, Esta madrugada escrevi assim (9))

Voltei às madrugadas. Voltei aos velhos hábitos, aos cansaços, às memórias. Voltei às melancolias dos teus interstícios, às recordações exaustas, às canções de embalar os sentires até portos proibidos. Voltei às madrugadas como prometi que não mais faria, volto a cair nas rotinas erradas e nos processos do insucesso.

E,

(a contrição que aqui vai dentro!)

juntamente com tudo isto, voltei a escrever-te.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Os meus ateus

E, de repente, os meus ateus apelidam a minha postura de “a revolta mais linda”, e pedem-me que ore por eles.

Os meus ateus que descrêem o amor e se engalfinham numa luta árdua contra o quotidiano emburrecedor, os meus ateus, que são bem meus, tão díspares de mim, tão longínquos das minhas crenças, mas tão entranhados no meu peito.

Os meus ateus são os que me trazem as palavras mais cruas e belas. E exactamente quando penso que não estou a salgar o suficiente, eis que os seus dizeres se apresentam perfeitamente temperados.

Vou amar os meus ateus para sempre, como Ele me ensinou.

A Branca de Neve escreveu:

"(...) A hora do almoço ainda foi melhor e é bom saber que todas as semanas, em todas as circunstâncias, vai haver uma hora assim, de apoio a todos os nivéis, de amizade, de amor e de irmandade. É bom saber que aconteça o que acontecer na nossa vida, temos sempre alguém com quem contar, com quem rir e com quem chorar. A presença física é todas as semanas, mas a amizade é todos os dias."

E ao ler: sorri, o coração aqueceu-se todo, quase deixei fugir aquilo que dos olhos queria sair, e percebi que era isto que eu queria escrever há muitos dias e não conseguia.

Por isso, Branca de Neve, muito muito obrigada pela tradução do que vai aqui dentro.

(como diriam, originalmente, as minhas primas) Corações, beijinhos e flores.

sábado, 2 de outubro de 2010

Um dia saberei falar bem.

Quanto mais o tempo corre por mim menos sei o que dizer.

Estou bem cansada dos lugares comuns, de dizer palavras que ficam bem, porque de algum modo aliviarão o coração de quem as ouve, ou por simplesmente serem adequadas ao momento.


Quanto mais o tempo corre por mim menos sei o que dizer.

Há alturas em que me esqueço disto e não falo, disparato. Acumulo muitas palavras desnecessárias, esbanjo o tempo precioso de quem me ouve e chego ao fim com o cérebro embrulhado numa questão singular: “porque é que não ficaste de boca fechada?”


Quanto mais o tempo corre por mim menos sei o que dizer.

Então olho nos olhos, afago as mãos, oro, abraço com força, procuro estar por perto (ainda que em silêncio), leio/cito O Livro, uso de experiências mais valiosas que a minha, de metáforas preciosas que aprendi pelo caminho. E esforço-me esperançosamente por fazer a minha parte.


Quanto mais o tempo corre por mim menos sei o que dizer.

E ainda bem. “A sabedoria humana aprende muito se aprender a calar-se” (Jacques Bénigne Bossuet) e “o silêncio é um amigo que nunca trai(Confúcio).