
A porta do carro fechou-se após a minha entrada, a chave rodou na ignição e a partida tomou o lugar da perfeição daquele tempo. Parti dali, regressei a casa. Entre sonos curtos e músicas que já conhecia desde a infância, os sorrisos que há tanto tempo não via, as vozes que há muito não ouvia, marcavam a sua presença em meu redor, como um longo cobertor feito de amor. Partia dali, regressava a casa. Lá fora, as relvas corriam contra o vento, as nuvens balançavam-se pelo tempo, as ventoinhas gigantes giravam preguiçosamente. Lá fora, o sol a brilhar não se cansava de me beijar a pele, de a escurecer mais um pouco.
Durante essa viagem iniciei a arrumação de todos os sentires acumulados em duas semanas molhadas de bênçãos. E organizava tudo metodicamente, a primeira semana, a segunda semana. Pensava eu ser capaz de tal tarefa depois de ter começado a partir e a regressar a casa. Mas não me foi possível, como já era esperado. Foram tantos sentimentos, tantas lágrimas carregadas de emoções díspares, foram tantos olhos a jorrar amor, tantos abraços, tanto de Deus… que comum ser humano poderia organizar tudo de forma tão metódica e certeira?... Não eu, de certeza. Naquele carro o meu peito ficava cada vez mais cheio de tudo o que tinha vivido. De como Ele se mostrou sempre tão presente em todas as fases, de como Ele foi a mão que encaminhou tudo, que nos guardou de tudo, que tocou em tantos corações. O meu peito inchava do calor Dele, que emanava segurança em tempos de incerteza, que transbordava de esperança para aqueles que outrora não viam mais que a morte. Toda eu, insuflada por um sentimento tão maior que o universo que nem sequer o consigo traduzir em letras combinadas, formando palavras belas.
Partia, regressava a casa. E comigo trazia os campistas de quem tomei conta, os conselheiros com quem partilhei dias, noites, risadas, orações, mãos, corações, tudo. Comigo trazia as memórias boas e as memórias menos boas, as primeiras pintavam os dias, as segundas faziam aprender mais. Comigo trouxe as diferenças de dois acampamentos, ao nível da idade, das pessoas, dos trabalhos, das dificuldades. Comigo sempre está aquele que une todas estas pontas desiguais. Deus. Sim, é Ele que reina, e faz do acampamento um lugar de reconhecimento, de transição, de crescimento, de bênçãos infinitas, de esforço, de lazer, de perfeição. Faço uma breve pausa para recuperar o fôlego, tenho o coração tão cheio, já tinha dito, não é?
Naquela viagem serena e de regresso tudo se consolidou num grande bloco de amor eterno, essa Rocha que nos sustenta a cada dia. Cheguei a casa. E em mim vinham todas estas coisas e mais uma. Vinhas tu. Foste, simultaneamente, o primeiro e o último a entrar em mim. E agora que estás aqui incrustado, não há como fazer o coração parar de pulsar muito rapidamente, não há como abater todas as certezas de que sou feita neste momento. É tão certo como ar que eu respiro. É tão certo como amanhã que se levanta. É tão certo que a Sua mão faz o impossível até sempre. É tudo tão certo.
Voltei.
P.S. Tireia a fotografia à casa que foi minha e de muitas. O Faroeste.