Hoje é sábado, e por esse mundo fora brinca-se à Hora do Planeta. Tal “jogo” consiste em deixar a Terra respirar durante uma hora, tendo toas as luzes e energia eléctrica apagadas. Parece que o ambiente interessa muito aqui em casa, porque aderimos (quase) massivamente. À semelhança do que acontecia no tempo das lareiras, a maioria de nós está reunido onde existe a maior quantidade de luz, pelo que rimos e brincamos e contamos histórias e conversas sem parar, porque é assim que o tempo passa de forma mais deliciosa.
Num desses momentos o meu irmão lembra-se de partilhar um poema que tinha lido, aleatoriamente, no livro de português, durante uma actividade aborrecida. Antes de o ler, introduziu: “depois de ler isto quase chorei!”. Passo a copiá-lo:
“na hora de pôr a mesa, éramos cinco:
o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs
e eu. depois, a minha irmã mais velha
casou-se. depois, a minha irmã mais nova
casou-se. depois, o meu pai morreu. hoje,
na hora de pôr a mesa, somos cinco,
menos a minha irmã mais velha que está
na casa dela, menos a minha irmã mais
nova que está na casa dela, menos o meu
pai, menos a minha mãe viúva. cada um
deles é um lugar vazio nesta mesa onde
como sozinho. mas irão estar sempre aqui.
na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco.
enquanto um de nós estiver vivo, seremos
sempre cinco.”
José Luís Peixoto, 2007
Depois de ele o ter lido e olhado em volta, também quase chorei. Não sei se pelo facto de me ter identificado profundamente, não sei se pela tremenda sensibilidade dele, não sei se pela saudade que chegou do futuro quando estivermos (momentaneamente) apartados; mas quase chorei.
“Seremos sempre cinco.”
Amén.
3 comentários:
:)
Uau.
my oh my. acho que já tinha lido isto algures, mas fizeste-me arrepiar de novo.
Enviar um comentário