segunda-feira, 30 de julho de 2007

(Tirei esta no comboio)

Hoje a minha irmã Iara faz anos.
Nove anos.
Está na idade supostamente infantil e despreocupada, na idade em que se começa a crescer para a próxima fase, mas isso não é perceptível por ainda termos um espírito de criança.

Bem, poderíamos dizer que sim há umas gerações atrás. Não nesta.
Apesar dos seus nove anos, a Iara preocupou-se com toda a preparação da festa, desde as guloseimas que a mesa suportará, até à indumentária e respectivo calçado do dia de hoje.
Não me privou do desfile dos modelos eleitos, mas seleccionou o tal por si só; aliás, como em tudo, o que a Iara mais gosta de fazer apesar dos seus nove anitos, é tomar decisões; quaisquer umas, sejam ou não precisas.

O seu espírito de liderança inato, a sua força interior, a vontade de afirmação extrema, tudo isso já se denota, aos nove. É verdade que discordo de certas atitudes, e ralho, porque “uma menina tão inteligente não pode agir assim, não é correcto.”
É aí que me apercebo, através dos olhinhos que lacrimejam, que ela só tem nove anos; com tanta veemência até uma irmã mais velha se confunde, não?

Apercebo-me que sim, a minha bebé está a crescer a olhos vistos, mas lá por dentro, lá no fundo, é ainda uma criança, que também faz as parvoíces que não se coadunam com a maturidade que tem.

Assim, e porque hoje é dia de festa, a Andreia vai ter de ajudar e trabalhar um bocadinho (ao menos uma vez não é? x’D). Esperam-me os bolos, os doces, a limpeza e a preparação dos dois irmões para a chegada da (imensa!) família.

O tempo urge, e a mana pequena que quer ser grande pede mimos. Há que atender aos pedidos da aniversariante.


Um beijinho*

quinta-feira, 26 de julho de 2007





O POCOYO É UM MÁXIMO ! :'D




-Porque é que a felicidade espontânea é questionada tantas vezes?


-Mas isso interessa? (:






Um beijinho*

segunda-feira, 9 de julho de 2007

( Iara, a minha irmã. Tirei esta fotografia numa tarde de praia em família. É para eles que volto sempre. )



(Hoje à tarde, quando devia estar a estudar Biologia e Geologia, e estava com vontade de escrever, saiu através de mim, não sei de onde, o texto enorme que se segue. Ah, e peço perdão pela ausência, mas isto da 'escrita' é muito condicionado pelo ímpeto natural de cada um.)


Há muito, muito tempo, numa terra longínqua que ainda ninguém nomeou, existia um menino cansado de si. Cansado da sua existência, da sua aparência e das suas vivências. E por estar tão cansado de permanecer nesse estado latente e inerte que era estar cansado, decidiu reagir e viajar.
Dizia ele que o seu espírito tinha uma necessidade tremenda de mudar de ares, de vistas e mares. Assim, resoluto como ele só, fez as malas e empacotou os seus mais importantes pertences, chamou o seu pai e a sua mãe, e comunicou-lhes que partiria para longes terras, e não sabia ao certo a data do seu regresso.

O seu pai e a sua mãe, após o choque de o ouvirem falar com tanta convicção, perguntaram-lhe simplesmente se tinha todos os seus documentos em ordem e a providência necessária para a sua viagem. O pequeno anuiu, beijou a face de sua mãe, abraçou o seu pai, e partiu.

Levava consigo os documentos, no bolso dos calções coçados, o equipamento de mergulho na mochilinha e, pela mão, o Roberto, urso e fiel companheiro de todas as horas. Cruzou o portão e desceu a Rua dos Botões, que o levaria até ao rio, onde poderia apanhar o barco para o país vizinho. Andou o que pensou serem horas e horas, não foram mais que dez minutos feitos por pernitas tão jovens. Chegado ao rio, apercebeu-se da diversidade da fauna e da flora, que os ecossistemas ali presentes albergavam. Recolheu amostras nos bolsos livres e examinou as minhocas, as formigas, os botões de flores e as abelhas bem de perto, estupefacto com o tamanho do ferrão que transportavam.

Chegada a hora do almoço, lembrou-se que lhe faltava a marmita, que a sua mãe sempre tinha o cuidado de preparar para as tardes passadas no recreio, quando a sua equipa de exploradores se reunia e discutia as evidências encontradas no chão árido do pátio.
Ainda assim, não se deixou vencer, e subiu à cerejeira onde se empanturrou como nunca pudera, devido à equilibrada ementa servida na escola, e à escassez de alimento que de quando em vez existia em casa.

Ao descer da árvore, achou que devia descansar e adormeceu à sombra da frondosa cerejeira, apoiando a cabecita nas raízes e fechando os grandes olhos negros durante um período de tempo indefinido, qual caçador que após a sua caçada, recupera energias no alimento e no repouso a que o Sol convida e a sombra auxilia.

Quando acordou, o menino notou que já não havia tempo para remar até ao país vizinho, na sua embarcação, e decidiu adiar o seu projecto para o dia seguinte. Aproveitou, no entanto, o resto da tarde para mergulhar no rio, uma vez que já tinha concluído a digestão. Despiu a camisa, calçou as barbatanas e colocou o óculos e o tubo respirador, para poder observar as espécies marinhas com mais facilidade.

Bateu as pernas e rodou os braços dentro de água, movendo-se com uma facilidade admirável e perícia sem igual, enquanto pensava de si para si quão bom nadador era. Viu algas verdes e peixes cor de laranja, flores aquáticas e seixos perfeitamente polidos. Mas por se encontrar já muito cansado, saiu da água e deitou-se na relva, saboreando cada raio de sol aquecendo o seu tronco, braços, pernas, face; vendo a água evaporar. Assim que se sentiu suficientemente seco, tornou a vestir a camisa e a arrumar o seu equipamento de mergulho. Suspirou profundamente ao ver que todos os seus documentos se haviam molhado, e que os espécimens recolhidos naquela manhã também já não estavam em condições de ser examinados.

Assim, perscrutou o olhar do seu fiel Roberto e disse-lhe: “Não fiques triste com o que te vou dizer, amiguinho, mas já não sinto vontade de viajar para longes terras. Descobri que a minha própria terra foi, ainda, pouco explorada, e pretendo organizar expedições a este local para a minha equipa. Sinto que se partir já, o meu coração não ficará em paz, porque é aqui que é o seu lugar, e ele é ainda muito novo para sentir tantas saudades assim. Um dia, amiguinho, exploraremos terras longínquas, mas, por agora, voltemos para o papá e a mamã. Posso até sentir o cheiro do guisado que será o nosso jantar.”

-*-

Quinze anos se passaram, e quatro anos após atingir a maioridade, o menino que agora já era um homem, comunicou a seus pais que ansiava por desbravar novos caminhos, e por isso na tarde seguinte descolaria no avião que tinha como destino a Grécia.

O seu pai e a sua mãe trocaram um sorriso cúmplice, e o primeiro falou: “Há quinze anos, disseste exactamente o mesmo. Saíste de casa e passaste todo o dia perto do rio, brincando, correndo, comendo e dormindo, nadando e acreditando piamente que eras dono de ti. A tua mãe e eu vigiávamos-te de longe, para assegurar que estavas bem. Naquele dia rimos da tua inocência, do teu ser resoluto e decidido, como se já ali fosses o homem que és hoje, mas dentro de um corpo pequenino. Espero que nunca te esqueças do que disseste ao teu urso Roberto, que agora está no baú da cave; que o lugar do teu coração é aqui. Viaja, conhece, descobre, sê feliz. E depois de tudo isso, por favor, volta.”

Antes de dormir, o menino que agora já era um homem colocou na sua enorme Samsonite, o mesmo equipamento de mergulho e o fiel Roberto. E ao deitar-se, sorriu. Estava tudo pronto para mais uma grande viagem.

“E depois de tudo isto, de certeza, volto.”
Um beijinho*