sábado, 12 de dezembro de 2009

Hoje acontecerão coisas bonitas

Se és uma daquelas pessoas que trabalha ao sábado, não te preocupes, esta festa só começa às 19h30.

Se já tens coisas combinadas, relaxa, é um culto aberto a todos, podes fazer-te acompanhar de quem quiseres.

Se vens de longe e de carro, aproveita este dia para passear em Lisboa e fá-lo terminar em beleza juntando-te a nós. (é que estacionar nesta zona(*) é crítico)

Se não tens tempo para isso, os transportes públicos são teus amigos e, ainda que mais espaçadamente, também funcionam aos fins-de-semana.

Se nunca foste, garanto-te, vais ter uma surpresa muito agradável.

Se achas que estas comemorações não se aplicam a ti, tira-lhes os rótulos previamente colocados. É que não se trata de religião, ou de "lavagens cerebrais". Trata-se de Deus, apenas e só, que nasceu para se revelar a nós da forma mais concreta possível.

Por isso, se ainda não esgotaste o leque de desculpas para não estar presente… acredita que ficarás a perder. Ainda assim, não te esqueças:

Estás convidado e/ou convidada (:




(*)

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

(sem título) (3)

Acabei de saber que a C. morreu. Atirou-se de um penhasco algarvio, depois do amor da sua vida terminar a relação que já vinham mantendo há largos tempos. Parece uma história tirada de um filme, parece mesmo uma piada de mau gosto. A morte induzida é desprovida de qualquer graça.

Pergunto-me quão desesperada devia estar a C. para decidir que o melhor fim era a ausência da própria existência.

E pergunto-me, tanto, se ela estará no Céu.


(quem me dera ter feito tudo para ter essa certeza)

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

"Vai masé trabalhar!"

Confirma-se: custa demais tentar compor ideias que não têm ordem certa para sair da cabeça. Quanto mais se tenta menos se consegue, e o cheiro a forçado impregna-se num texto que nem escrito à mão é. As interrupções desajudam a expressão pouco clara das ideias originalmente embrulhadas em si mesmas: uma revista cai sobre outras tantas iguais a ela, a progenitora pigarreia contra os cansaços que a perseguem, a responsabilidade sopra ao ouvido que “o tempo escasseia” e há muito que cumprir… e só apetece regressar ao melhor momento de ontem, quando, alheada da real correria das pessoas sérias e obrigações adjacentes, gastei euros a mais em frutos secos apetitosos, pousei os pesos vestidos por uma mochila cor-de-flor-de-princesa num banco frio (onde também me sentei), e fiquei a ver a vida acontecer.


(e o senhor B Fachada cantou docemente ao meu ouvido as maravilhas de uma estação em que não estamos, com frases emprestadas pela primeira dama do jazz)

Quero outra vez, só por instantes, ficar a ver o tempo passar. E compreender que posso gastar tempo a sentir o tempo durar no relógio, sem pressa. Ficar apenas assistindo, vendo os transeuntes para lá e para cá, desviando-se uns dos outros, de fatos, de saltos, de gorros, sorrindo, chorando, conversando ao telefone, sozinhos, acompanhados, bonitos (todos), ouvindo o ar, esperando por um carro que é auto (na beira da estrada), com brilhos apaixonados nos olhos. A humidade abraçando as árvores e humedecendo as pontas dos meus cabelos, o sol alaranjando o céu, ausentando-se para que a escuridão enevoada pudesse exibir a sua lunar jóia.

O sabor bom dos frutos quentes e secos (e a Primavera pintada de bonito pelo senhor B Fachada). O tempo a passar devagar no relógio para onde eu não precisei de olhar. E o hálito tépido a condensar os pequenos pedaços da atmosfera que conseguia atingir.






Vou masé voltar ao trabalho.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

“Então não falas, recordas só…”(*)

Então é isto, a dilaceração. O coração esventrado de saudades, os marcadores somáticos activando sinapses, por tudo e por nada; constantemente acordados. Já não falo, de quando em vez escrevo. Recordo, incessantemente. E, sobretudo, espero.

Sobre todas as coisas, como sempre, a espera impacientada de regressar, “beim rápido”.


(*) Leguminosa

domingo, 29 de novembro de 2009

Histórias bonifácias (2)

Agora somos cronistas. Das horas que passam, pesadas; dos dias que ainda não correram, velozes. Somos cronistas do estado da nação a que nos confinamos vezes sem conta, essa polémica anarquia de latitudes longitudinais, esse ponto do tempo em que a cumplicidade se desdobra, múltipla de si mesma. Agora somos cronistas cibernéticos, quando não o podemos ser numa roda acesa de partilhas fisicamente presentes. Agora gravamo-nos, guardamo-nos, trocamos letras soltas e descodificadas dos seus zeros e uns originais.

E assim vamos crescendo, despreocupados. O âmago do que agora existe não precisa de explicações maiores. Somos, ponto final.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

"Vem brincar, traz um amigo teu!"

Em casa da vovó Anita não falhava: depois do leite e ainda com algumas bolachas Maria na mão, em cima do grosso cobertor de retalhos que fazia as vezes de tapete, sentavam-se todos, netos e netos-emprestados, a ver o Poupas Amarelo e a não imitar o Monstro das Bolachas (apesar de nos apetecer muito).

Se pudesse escolher, era criança para sempre.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Ella canta:

“I want something to live for”

(é engraçado…) É o que toda a gente quer. Toda a gente quer algo pelo qual viver. E fazem por dizê-lo, fazem por fazê-lo saber.

Há uns (quantos, muitos) que acham que descobrem. Escrevem livros sobre isso, escrevem músicas. Dizem coisas que parecem insuflar o ser, uma lufada de inspiração. São citados, são pensados como acertados. Dizem que sim, que é isto a vida, que é este o motivo pelo qual vale a pena existir. O estatuto, os cifrões, os monopólios, o poder, o reconhecimento, a bondade, a diferença. O divertimento, o sucesso, o isto e o aquilo, a experiência, a maturidade, a transcendência da alma… a assertividade, a coerência, a teoria da batata e do feijão verde. A China e o Japão (como eu sempre digo), só porque sim.

Porque eu mando, porque eu sei, porque eu decidi assim; porque eu escolhi, porque possivelmente tudo é relativo (e não necessariamente por esta ordem).

(suspiro)

Será que ainda não perceberam?


(Rabi, eu sinto um enésimo da Tua decepção)

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Parêntesis (2)

(Não foi como os olhos ouviram, nem sucedeu como os ouvidos viram. A percepção revelou-se ocasionalmente enganosa, e a razão doeu-me. Ainda custa a descortinar a certeira justificação. Se foi porque o pensamento viajou errado, ou porque os gestos encheram o ar de uma realidade desagradável, que é esta:

Todos rotulam tudo, mesmo que eu anseie a existência de afamadas excepções.)

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Polémicas lusas



Se os autores de um vídeo assim fossem um Ricardo Araújo Pereira e companhia, eram incríveis e cómicos e fantásticos… e todos esses adjectivos que os perseguem por todo o lado. Como foi uma compatriota transatlântica… deu no que já toda a gente sabe.

É sabido que este humilde recanto nunca foi local de polémicas nem comentários pessoais ao que por aí sucede, mas eu, caríssima Maitê, achei-lhe muita graça. Em todos os países e culturas existem factos passíveis de gerarem gargalhadas e polémicas, apontados pelos seus cidadãos ou por outros.

Mais justificações plausíveis para os últimos acontecimentos? Eu não tenho, mas o senhor Ferreira Fernandes tem:

Ele há indignações estranhas

O Pingo Doce contratou um famoso publicitário brasileiro para a campanha que começou nas televisões na semana passada. Vai daí, começou outra campanha no Twitter, esta semana: abaixo-assinados de portugueses (já vão em 1600) contra o anúncio do supermercado. Fui ver. Talvez porque não seja o cliente - tipo, o anúncio não me aquece nem arrefece. Mas, porque nasci com a dose suficiente de bom-senso, uma coisa garanto: não tem nada que suscite uma mobilização indignada. Então? Porquê os 1600 e o frenesim, que já apela até a um encontro de indignados? Eu explico: cherchez la femme. O que, traduzido para a circunstância, é: alguém ficou sem a conta choruda que o supermercado tinha para publicidade e que foi parar ao brasileiro. A dor de corno na bolsa é das que mais doem. Espero que sem relação, mas também esta semana, alguém ressuscitou um vídeo da actriz brasileira Maitê Proença, onde ela é grosseira sobre os portugueses. O vídeo é velho de dois anos e, no entanto, também já há abaixo-assinados contra a brasileira. Se hoje Liedson marcar 5 golos (4 contra Malta e um na própria baliza) e amanhã aparecer um abaixo-assinado contra o "brasileiro" que traiu o nosso guarda-redes, vou ficar atento: o defraudado publicitário português está mesmo assanhado.”



in Diário de Notícias, crónica Um ponto é tudo, 14 de Outubro de 2009



(depois de publicar este post e ver os videos relacionados com o acima apresentado)

TELENOVELA BRASILEIRA, pelos Gatos Fedorentos



Contra isto ninguém se insurgiu, nem no Brasil, nem em Portugal. Tenho dito.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Aurora


Lembro-me de adormecer sob um cobertor de estrelas, num terraço de Aladino e com o embalo daquela língua estranha e rápida, vinda de outras janelas, mais altas que a nossa. Lembro-me de acordar com o sol, pontual e inequívoco, às cinco e meia da manhã, e os pássaros no seu chilreio em crescendo, até atingirem dinâmicas fortes demais para os meus ouvidos. Lembro-me de fugir para o quarto-verde a essa hora matutina, e dormir ainda mais um pouco, até não conseguir suportar o calor.

E ao acordar definitivamente, ficar a observar tudo à minha volta, desapressadamente. Olhar para aqueles que ainda dormiam lá fora, com os corpos desarrumados e misturados nos sacos-cama todos espalhados; ver os verdes das costuras das almofadas e respirar o bafo quente que o vento fazia correr pela casa, sem grandes pressas. Mirar o tecto e os enfeites nas paredes e os sacos de viagem, sempre arrumados. Os restos das migalhas, espalhadas na mesa, do delicioso pão que tínhamos comido no ontem passado…

Lembro-me de chorar de gozo, logo pela manhã. E dizer “obrigada Papá, porque estou a viver. Como Tu queres, e como eu mais gosto” no segredo do meu coração.






P.S. Depois de lavar os dentes e beber muita água, lá tirei essa (e outras fotografias) à janela do quarto-verde.

domingo, 11 de outubro de 2009

Jovens '09

da esquerda para a direita, A., S., A.C. e R.




Resolvi abrir aquele pequeno disco que guarda algumas das muitas fotografias desse acampamento de Verão. A saudade apertou-me tanto e tão veementemente. Voltem, férias-grandes, que estão perdoadas!

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Música, como viver sem ela? (16)



Uma letra deliciosa, uma sonoridade fabulosa, e dois dos meus favoritos cantando juntos. Pouco importa que esta canção tenha aparecido em 1960; a qualidade é intemporal.


(quem, quem, quem, quem)

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Esta madrugada escrevi assim (7)

A brutalidade áspera da verdade não é suficiente para me fazer parar de escrever pela madrugada fora. Não é, não foi. Eu só quero que seja. Só quero escrever que um dia o será.

Mas afinal, o “que será que será?”


“O que não tem certeza nem nunca terá
O que não tem juízo.”

No que a escrever pela madrugada concerne, às vezes “tenho medo do que será de mim”.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Na carrinha branca...

Imagine-se este quadro: três amigos viajantes, em que um deles é brasileiro. No destino, acrescenta-se ao grupo um quarto amigo, marroquino. O brasileiro que ama Marrocos e o marroquino que suspira pelo Brasil tratam-se por “meu irmão” (mêrrmão, para ser mais exacta). Partilham o mesmo humor, gostam dos mesmos filmes, riem-se das mesmas tolices, e ouvem as mesmas canções.

Viajamos por Marrocos, os quatro, na (já muito massacrada) carrinha branca. O brasileiro pede ao marroquino para banda-sonorizar a viagem. O segundo liga o seu Ipod ao rádio da dita carrinha e sai-se com Adriana Calcanhoto.



Na janela correm as planícies aridamente belas dessa África onde agora passeamos. Brasileiro e marroquino confundem-se em suas nacionalidades e as risadas inundam o ar quente desse início de tarde. Os irmãos estão a cantar e a mistura dos sotaques faz cócegas nos ouvidos. Eu confundo-me também. Estou em Marrocos com dois brasileiros, estou no Brasil com dois marroquinos, ou estou num universo paralelo?

(pergunta descabida)

Estou em casa.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Histórias bonifácias

O meu amigo P. tem um talento nato: descortinar pessoas. Se algum dia tivesse de acontecer, o seu epíteto poderia ser mudado para Profiler sem quaisquer problemas, tal é a sua perícia. Às vezes penso que ele pensa que, quando enfatizo este seu traço, o estou a criticar. Não estou, como já se nota. Constato apenas.

O meu amigo P. crê que eu analiso tudo constantemente, como o acuso de fazer. Ele crê nisto com muita força, pensado que incorro numa falácia grandiosa quando lhe aponto tal comportamento. Ele não sabe, de todo, que o que mais me apraz não é analisar; é só olhar. Gosto tanto de os ver, àqueles que agora conheço mais fundo, saber como os seus risos rebolam desavergonhadamente, saber os seus jeitos, os maneirismos que lhes compõem as falas. Saber, de cor, o que mais lhes agrada, e também o inverso, como brilham os seus rostos entusiasmados e como agem quando o incómodo domina.

Só olhar, só para saber. (Só para poder gravar em mim.) Sem pretensões analíticas, sem objectivos catalogantes. Absorver tudo, apenas. E sorrir ao revê-los nos preâmbulos das minhas memórias, sorrir e saborear, revivendo tantas partilhas. O P. não sabe que é assim que eu sou mais feliz.

Um dia conto-lhe.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Apontamento (2)


Continua a correr, não pares – gritava a voz longínqua de um vento inanimado. Era uma força que vinha com lágrimas, eram lágrimas que não cessavam de acorrer aos olhos, de tempos a tempos. Era um grito distante e audível, um grito incessante; indubitável.

Parar era uma vontade que crescia insustentavelmente. As pernas, os abdominais, os pulmões pediam descanso, clamavam por uma pausa, mais e mais. Parar não era (não é) opção, sucumbir ao cansaço, não.

(Às vezes, quando essa força mascarada de ventania se abranda, cresce mais a vontade de desistir, de chorar apenas. De largar o corpo no tempo e deixar todas essas dores esvaírem-se em muitos soluços seguidos. Às vezes, quando o sorriso esmorece, não correr é mais tentador, mais fácil.)

Continua a correr, não pares – há uma meta para cortar lá à frente, há um alvo para atingir, há uma diferença para marcar. Mentalizar a respiração, regular o corpo para a sintonia da persistência. E sem olhar para trás, manter o ritmo; continuar a correr.









P.S. Fotografei esse pedaço de trilho (algures) em Águas Santas.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Arcos-íris e propriedades de multiplicação

“Esse sonho me acontecia muitas vezes, mas não com tantos miúdos a correrem pela PraiaDoBispo sem os fios dos papagaios a prenderem uns nos outros – como os nós malucos na rede do camarada VelhoPescador –, nem tanto vento eu nunca tinha visto assim a fazer calemas no mar dali tão calmo, só que ao sonhar eu não sabia que era um sonho, a minha respiração estava depressada de eu ficar aflito a ver o largo da bomba de gasolina com uma multidão de crianças que eu queria saber quem eram, estavam os da PraiaDoBispo e também os do BairroAzul, outros da escola e até alguns adultos, a TiaAdelaide a rir, o camarada VendedorDeGasolina a correr com um papagaio vermelho e amarelo, até o TioRui que era escritor passava numa bicicleta que tinha uns bigodes desenhados e ele fazia as duas coisas, conduzia a bina e dominava o papagaio – que bicicleta bonita! –, o SenhorTuarles tinha uma caneca de cerveja na mão e com a outra fazia o papagaio dar reviengas de esquindiva no vento, até o CamaradaBotardov ria e corria, “dona Nhé, papagái leva notícia na tão-longe”, mas o que nunca mesmo me tinha acontecido naquele sonho de carnaval e risos também, era ver tantas cores movimentadas numa dança de ventos voados e o céu cheio de mil verdes, amarelos, laranjas e vermelhos com o azul por trás, o céu a imitar uns pássaros que fossem o corpo vivo disso que chamam arco-íris.
- Estavas a sonhar, filho?
- Ai, Avó, não me acordavas só, eu estava a sonhar bué de arcos-íris.
- Oh, meu querido – ela me limpou a cara – estavas com a respiração tão alterada, todo suado, tive medo que fosse uma crise de asma.
- Era uma asma colorida, Avó… O nosso céu da PraiaDoBispo com cores que eu nem sei te explicar.
- O mesmo sonho, então.
- Mas com “propriedades de multiplicação”, como dizem na minha escola.
- Tá na hora de acordar, de qualquer modo. Vens comigo ao cemitério?
- Sim. Vais falar com o AvôMbinha?
- Não dá para falar, filho. É só estar um bocadinho. Às vezes a pessoa vai ao cemitério para falar sozinha.
- O EspumaDoMar fala sozinho sem ir ao cemitério. (…)”
(*)


Livros assim, que me fazem viajar até uma Luanda longínqua, onde estão enterradas as raízes dos meus mais-velhos; livros cheios de histórias que a minha mamã sabe explicar porque também foram as histórias da infância dela; livros cheios de expressões saborosas e das quais me aproprio imediatamente; livros que me fazem querer ter sido uma criança assim, ou querer que os meus rebentos sejam crianças assim; livros que confirmam que aqui sou estrangeira (como a Ervilha costuma dizer); livros que confirmam que não tenho, de todo, idade para ter nem dezanove nem vinte anos, porque me identifico tanto com as palavras de um menino pequenino…


“Acho que as lembranças são cócegas invisíveis que ficam dentro das pessoas. Eu quando me lembro dessas coisas começo a rir sozinho até o 3,14 me perguntar se eu sou maluco de rir tantas vezes sozinho.

- É que eu fico a lembrar as coisas.
- Mas ainda não és mais-velho, não podes ter muita coisa para lembrar.
- É que já me contaram muitas coisas de antigamente. E eu fico a rir de coisas antigas, Pi.
- As coisas antigas não têm muita graça de rir.
- Depende, Pi. Depende.”
(*)

Livros como este que, mal são terminados, apetece ler tudo outra vez.



(*) excertos do romance AvóDezanove e o segredo do Soviético, de Ondjaki.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Igreja



Casa de pardais bonitos, de formigas grandes
e casa de tajine.
Segura casa de paz.
Casa de campainha passarinho
e casa de futebol.
Casa de sustento, de alimento.
Casa de amor.

Templo de descanso,
de sombra, de brisa.
Templo de riso aberto
e templo de crianças.
Templo de som, de música;
de muitos e muitos idiomas.

Rios de água e de ‘cuca’ correm ali,
é casa e templo de repasto.
Templo de cumplicidades mil,
e de eternidades.

E a alma que outrora não tinha morada inscrita, encontrou nesse lar a sua.










P.S. Tirei aquela fotografia enquanto os irmãos dormiam.

domingo, 30 de agosto de 2009

Inalação

Guardei muito daquela terra, apropriei-me dela tanto quanto pude. Gravei com as órbitas e com as objectivas, escrevi em comprimento e com minúcia, ouvi o zunido que tantas línguas misturadas fazem soar, saboreei com a pele a temperatura do chão, da água, do ar que circunda tudo…Havia algo, porém, que temia muito perder entre uma e outra memória: o cheiro. Marrocos cheira a muitos cheiros temperados com muita intensidade. Às vezes tresanda e outras vezes agrada, mas nunca é subtil, nunca é suave; tem um cheiro que penetra inteiramente e não mais se ausenta das narinas. O nariz e o cérebro, porém, funcionam de um modo estranho. Se o primeiro ficar muito tempo sem sentir um dado odor, o segundo acaba por guardar apenas a ideia do que ele é; o tempo aliado à ausência faz perder a capacidade de cerrar os olhos e sentir o cheiro como se a sua presença imperasse. Eu receava que a minha mente montasse (apenas) uma concepção do cheiro, e receava muito.

Era o nosso último dia, aquele que foi reservado para a total exploração do mercado de Marraquexe (muito há para escrever sobre este lugar, por isso salto as descrições apetecíveis e dirijo-me ao que interessa). Os meus três companheiros de incursão ao mercado estavam inundados de sede, mas eu só me focava no chá marroquino que precisava de encontrar. Decidi então aventurar-me aleatoriamente, enquanto os meus companheiros repousavam o corpo do lado oposto àquele em que me encontrava. Entrei numa das tantas tendas, altas e firmes, cheias de especiarias e cheiros e materiais desconhecidos; dirigi-me ao vendedor, que não devia ter muitos mais anos que eu (os olhos astutos eram frescos), esperando que houvesse uma língua entre essas tantas em que nos pudéssemos entender. Havia.

E por isso entendemo-nos bem. Regateei o preço do chá como manda a regra, ele tentou impingir-me pós raros como é seu dever; declinei, cordial mas não muito firmemente, porque ele continuou a procurar mais alguma coisa que eu pudesse comprar. Era novo mas arguto, e com o seu melhor sorriso pegou naquilo que parecia uma rocha desconhecida e perguntou-me: “posso?”. Sem esperar pela resposta e sem usar de brusquidão, segurou o meu braço e explicou: “é uma pedra de jasmim, é perfume”, enquanto passava aquele sabonete rugoso pela minha pele, levemente. Ao terminar, desafiou-me a confirmar a veracidade das suas palavras; cheirei o meu braço e sorri (muito). Cheirava a uma parte de Marrocos.

Yassin, o vendedor do sorriso matreiro, mostrou-me outros perfumes cujo nome a minha memória deixou escapulir, e quanto mais ele mostrava mais eu descobria outros tantos cheiros que se misturavam e formavam o odor principal. No final, seleccionou as melhores quatro especialidades de perfume e fez-me um preço especialíssimo, por elas e pelo chá. Não procurei disfarçar o meu contentamento, estava a salvar em mim o cheiro de Marrocos. Aceitei a proposta e ele embrulhou cuidadosamente cada perfume, explicando-me que não devia misturá-los uns com os outros nem com outros produtos (como o chá). O jasmim foi o último a ser embrulhado, e Yassin acrescentou-lhe uma porção extra: “é uma prenda da minha parte”. (os homens marroquinos são de outra estirpe, mas acerca disso também há muito que escrever…)

Assim, cada vez que entro no quarto, fecho os olhos e respiro fundo… Nem um segundo e viajei para a tenda de Yassin; estou no imenso mercado de Marraquexe.

sábado, 29 de agosto de 2009

É assim que se faz.

(…)

L: Espero que te habitues a essa ausência do "músculo central", como descreveste. Eu ainda não me habituei. Uma coisa te garanto: aprenderás a disfarçar essa dor, que suavizará com a certeza, às vezes leve, que voltarás.

A: (…) Era essa a resposta que procurava, porque foi essa resposta que a ausência de coração me deu logo e precisava de confirmação… Agora não parece que me vou habituar; andar sem coração é muito esquisito.

L: Olha, eu demorei, sem exagero, três meses com essa aflição. E depois a ausência permaneceu, mas a dor ficou mais sossegada, mais silenciosa… recordo ainda com muita intensidade, e tento falar pouco disso, porque é como se ausência se carregasse (…) isto para dizer que percebo o que sentes, que percebo essa irritação que não tem só a ver com o facto de perceberes que estás num país tacanho, que não tem só a ver com a tua mentalidade que se abriu, mas com o facto de já não quereres estar aqui, mas noutro sítio. Por quereres levar o teu corpo para onde está a tua alma (…) E se realmente não tiveres oportunidade (que eu espero sinceramente que tenhas) de visitar Marrocos num futuro próximo, viverás numa recordação constante, numa esperança constante, numa saudade constante! Ao início falarás muito sobre as coisas, mencionarás coisas que se passaram quando tiveres oportunidade e até em momentos menos oportunos… e depois vai doer-te se falares. Então não falas, recordas só… (…) Eu espero mesmo que tu vás na Páscoa e que possas ir sempre que assim se proporcionar… Até, se Deus quiser, ires para lá fazer o que desde o início tens certeza que gostavas e queres fazer

A: (…) tu estás a traduzir-me e isso sabe bem mas também sabe mal; porque sentir tantas saudades assim só faz buracos na alma e eu receio esses buracos, tanto… porque o meu mundo é de príncipes e cogumelos.

L: Nós também precisamos desses buracos para saber quem somos… algo morreu, mas algo também nasceu, percebes? (…) É como se, no fundo, se anulassem. É retirado um pedaço e colocado outro. Tens que olhar para o que foi acrescentado, para o que te faz sentir bem, para o que te faz sentir uma certeza (…) A felicidade a encher o peito, e encher de tal maneira, porque nos conseguimos encontrar num pedaço de terra.

(…)

(O diálogo acima apresentado é real, e nesse diálogo a A sou eu.
Não só, mas muitas vezes, as melhores respostas vêm dos melhores amigos.
E especialmente dos melhores amigos que escrevem melhor.)

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Como é que se faz?

O que faz alguém que perdeu o seu coração, músculo central, numa terra longínqua, num tempo distante?

Como é que se faz quando o corpo volta para casa e o coração deambula estrada fora?

Eu prezava saber.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Do partir

A pior parte das partidas é a incerteza que nasce no último abraço. Predeterminamos uma certa quantidade de tempo que deve passar até voltar a ver e vivenciar aqueles que partem, mas não existem quaisquer certezas de que assim será.

A pior parte das partidas é a dúvida: agora que os corpos se apartaram, quando regressarão? Até quando a espera? Será ela breve e indolor, ou grandiosamente saudosa? Até quando, outro primeiro e desmedido e risonho abraço?

É a confiança que conforta, não a mentalização. Porque, se fosse pela segunda, estava bem arranjada…

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Conto ordinário

Era uma vez ele e ela.
Viviam muito felizes, até ao dia em que ela teve de viajar para a China.
Dado que ela teve de permanecer muitos dias e meses e anos na China, eles passaram a viver apartados e menos felizes do que antes.
Na China, ela conheceu um belo chinês com quem julgou poder ser feliz (como tinha sido com ele)
.

Um desengano conduz a outro desengano e esta história embrulha-se em reticências confusas… É que ele e ela nunca culminaram peremptoriamente, porque ele esperava, ela esperançava e eles sentiam.

Um ponto final redondo teria facilitado tanto a vida do chinês.
Pobre chinês…

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Pássaro

Abro a janela e desato num voo. Pairo, doce, sempre.
Sabe tanto a saboroso abrir as asas pelo infinito azul.
Deixo-me a planar, arrisco subir a pino e descer a pique, flutuando entre as vertigens que a prudência não me deu.

Leve, plano, sempre.

Consigo ver todos aqueles que povoam a terra que em baixo de mim vive. Ocasionalmente, há quem sinta a minha sombra rebolar sobre si, brincalhona, e me acene um cumprimento dedicado.

O meu voo prossegue, sem fim. Não descanso porque não me canso.
Viajo onde quero ir sem receios de prosseguir; sei bem que as forças não me faltarão nunca (Ele providencia).

Mantenho-me batendo asas, céu adentro, ou afora (sei lá do avesso do interminável!...)
Estou voando, para eternamente.



Ao som de:

(recomendação da Cátia)

sexta-feira, 10 de julho de 2009

"Impossible is nothing"

Quando aceitei participar no projecto que amanhã finda, fi-lo apenas para ajudar um amigo com dificuldades em encontrar quem o auxiliasse. Depois de me explicar o formato e os objectivos do Acampamento para o qual precisava de líderes, acedi em reunir-me com os restantes contactados e preparar-me devidamente para as minhas futuras funções. A primeira reunião com o grupo de trabalho não foi muito aliciante, ainda que tenha saído do local a matutar no quão simpáticas eram as pessoas com quem me cruzei. Ainda hesitei no meu íntimo, ainda questionei a minha resposta tão apressadamente afirmativa, e ainda me lembro de ter pensado que era uma loucura partir numa aventura de três semanas carregadas de criançada.

Mal sabia eu o que o Pai tinha preparado para mim. Irmãos novos, amigos novos, desafios novos, e mais um sem número de bênçãos tremendíssimas. Agora que é hora de partir, de findar o Acampamento que ficou inicialmente marcado pela minha reticência, o meu coração mimado carrega-se de saudades dos que ainda não deixei, dos momentos trocados ao longo de uma inteira semana, da partilha que se fazia em presença do Rei a cada manhã, dos sorrisos e abraços dos meninos que a pouco e pouco se foram tornando meus, da cumplicidade que nasceu a cada batalha vencida, a cada conversa tida.

Neste momento, o peito contrai-se e comporta-se contraditoriamente. Espero, ansiosa, pelo que a próxima semana trará; espero pelo próximo impossível que Ele subtilmente materializará. É que este Deus que é o meu não brinca em serviço; se já antes havia provado que se divertia a concretizar impossíveis, desta vez não foi excepção…

Até mais ver meus caros, até mais ver.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

O homem dos pés nus

Ele tinha sempre os pés descalços, sem sola, sem protecção. Todo e qualquer soalho era confortável o suficiente para prescindir de sapatos protegedores. Quando andava, ele ria sempre, sempre. Com todos os seus dentes francos (e brancos), ele inundava quem o circundava com o som envolvente do seu gargalhar-sabe-bem. Andava descalço e não se importava. As suas manias de chefe (ou dom de ser chefe?), aliadas ao 'bom feeling' do seu espírito, impediam quem quer que fosse de se aborrecer com tamanho à vontade, e mesmo quando tal impossibilidade era tentada, o assentir assertivo e sincero dos seus olhos era tal que a situação se desaborrecia automaticamente. Ele tinha sempre os pés descalços, ria muito, e tinha o coração no Céu, perto de Deus. O seu carácter inusitado emanava atracção, o seu objectivo claro puxava pela admiração, e a sua terna predisposição… bem, sabia bem; sabia a bom.

Esse homem cruzou os seus descalços pés com aquela mulher, que fechava os seus todos os dias, num par de ténis. E qual não foi o espanto do mundo quando caminharam paralelamente um ao outro, de pés desencontrados num solo estranho, e mãos dadas num ar que os levitava como se de uma bolha de sabão se tratasse (porque importava mais o abraço caminhante que davam que outra contingência qualquer…)

O mundo não está preparado para coisas como esta. Talvez precise de entender que eu não me limito a inventar histórias. Eu limito-me a relatá-las.

terça-feira, 30 de junho de 2009

Da boda, e do amor (vá...)

A humanidade tem construído várias convenções para o amor, particularmente aquele que une um casal. Dependendo dos tempos e das vontades, lá se vai caracterizando e definindo o dito cujo como mais apraz à maioria dos constituintes da sociedade. Neste tempo em que vivemos, o amor quer-se jovem e fogoso, quer-se prático e satisfatório. Quer-se louco, mas fiel, sacrificial, mas só para o outro lado. Nesta era há até quem desacredite tal sentimento, sustentando a sua inexistência, argumentando que a essência egoísta de toda a gente é incompatível com um sentir tão sublime.

Eu abstenho-me de clichés; sendo uma romântica eterna e incurável, piamente crente de que existe alguém para outro alguém (sem justificação plausível), saboreio para dentro e sorrio para fora, quando me cruzo com exemplos que comprovam esta minha ingénua predisposição. E sabe bem ver os olhos que brilham sem vergonha, os beijos que se entregam sem rodeios, as alianças que se trocam sem pudores, aos quarenta e vários anos de idade. Contra todas as convenções, contra toda a ostentação que transportámos para o século XXI, contra as expectativas da tacanhez, ser-se genuinamente feliz. E também fazer genuinamente feliz.

O amor conjugal é isso, não? Independentemente do que se escreva, se diga ou se pense. No final das contas, o saldo só é positivo quando o sentir é genuíno. E ontem, posso afirmar, mais docemente genuíno era impossível.

sábado, 27 de junho de 2009

Histórias de Arrepios

Por favor, preparem-se, espreitem e leiam com atenção.

Questiona-se a veracidade destas histórias por não serem denunciadas nem dignas de nota nos canais noticiosos. Eu cá creio que nunca fez mal a ninguém andar alerta. E onde há fumo...

Continuando assim, onde é que vamos parar?

domingo, 14 de junho de 2009

(sem título) (2)

Os olhos viajam pelo mundo que gira fora da janela. Está calor, mas o nariz funga feito louco, entupido de um misto de alergias e constipações obstinadas. O sol iniciou o processo de se pôr por trás do horizonte, a Terra tornou a girar e ninguém deu por nada (ou fui só eu?). O vento sacode os ramos das árvores raras, agora que podaram as mais antigas para renovar a terra e as vistas dos seres aqui viventes. Ouvem-se os passos dos transeuntes que cruzam o alcatrão e a calçada, ouvem-se os pneus dos carros e seus poluidores motores. As janelas são invadidas pela brisa forte, que afecta as cortinas anexadas à parede. A menina Tavares canta as suas canções novas para mim, e todas elas sabem a certo, a bom, a simples, a mágico, a bênção.

Afasto de mim a lembrança que este vento trouxe consigo, contemplo apenas este momento giratoriamente transitório… estarei aqui na próxima volta?

“Po bo pé dianti kel otu pé, ié ié.”(*)




(*) “Põe o teu pé em frente desse outro pé, ié ié”

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Música, como viver sem ela? (15)



Para hoje, os incontornáveis U2 cantam "Magnificent".
Porque as músicas feitas para O exaltar estão entre as mais bonitas.
(E quem duvida de um louvor assim?)


Um beijinho*

terça-feira, 2 de junho de 2009

Epifanias (2)

Lembro-me perfeitamente da noite em que soube ter entrado para o ensino superior. Lembro-me de ter entrado naquela que era a primeira opção do bom senso, totalmente contrária à primeira opção da vontade pura. Lembro-me de todas as borboletas que resolveram passear-se pelo meu estômago sem sobreaviso, lembro-me do brilho nos olhos do meu pai. (Acho que até então não tinha plena consciência do que esta entrada significava para ele). Lembro-me dos telefonemas das minhas tias e das suas vozes envolvendo-me num abraço forte, de expectativa, de felicitação, de força para o que aí vinha. Lembro-me da praxe; ah! Se me lembro… da praxe à qual não queria ir nem morta, da praxe que se iniciava todos os dias às sete da manhã, das rixas contra os outros cursos, do laço doloroso que se cria entre caloiros, inevitavelmente. Lembro-me da primeira vez que conversei com as pessoas que agora se afiguram marcos incontestáveis em mim, lembro-me do fascínio a cada matéria nova (que, felizmente, ainda existe) e também me lembro do confronto chocante com a expressão “bibliografia da cadeira”. Lembro-me, também muito bem, da dificuldade que senti em traduzir tudo o que se passava em mim naquela altura, de não conseguir descrever o vulcão em erupção plena, e ainda para mais catastrófica, soltando cinzas e muitas nuvens ardentes. Lembro-me de agradecer ao Pai, de forma fervorosa, esse bendito bom senso inicial, e de percepcionar, a cada dia que passava, que não podia ter entrado em sítio melhor, em curso melhor, com pessoas tão singulares. Especiais.

E só agora me apercebo de que recordo este primeiro ano com um sorriso grande, grato e contemplativo, porque ele já passou. O primeiro ano já passou, apesar de faltar ainda um mês para a conclusão do dito momento de avaliação. Agora que o Verão se impõe peremptoriamente, agora que já são combinados passeios e estudos fora das abafadas paredes da biblioteca, agora que o ritmo suaviza e o material de estudo engorda; agora já surge a consciência de como o tempo correu, veloz e sem piedade.

Até custa a crer que um já está. Como diz o bem afamado professor (rápido e sem respirar):
“Ai é tão bom já foi.”

terça-feira, 26 de maio de 2009

É proibido fotografar no comboio.


Hoje estou com poucas palavras.
(Mas tenho fotografias de verões passados, como esta, de há dois anos)

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Atravessar pontes

Pocaterra, pocaterra, é o que o comboio já não faz. Nem expulsa mil vapores, nem veste escarlates cores que sejam visíveis a grandes distâncias. Agora desliza, suave, soltando uma aguda fricção com os carris de quando em vez. A sua locomoção é um sopro contínuo e forte, baptizado com apitos maquinais à chegada e à partida.

… Que importa a corrupção do romantismo de um comboio antigo? O comboio permanece e cresce nesta humana temporalidade. E enquanto ele houver posso mergulhar os meus olhos na infindável beleza, estranha e rara, do meu Tejo. Esse Tejo que reluz com o sol e se enegrece com o nublado do dia, Tejo que inspira canções e rabiscos destes.

Tejo que saboreio manhã após manhã, sôfrega e alegremente; eterno Tejo, enquanto houver comboios.
19 de Maio de 2009

sábado, 16 de maio de 2009

Outra coisa que aprendi

É que sou capaz de engolir sapos. Engulo-os sem chatices, os grandes e os pequenos, ainda peço desculpa por ter necessidade de degluti-los. Depois enrolo-me para dentro de mim e deito lágrimas pelos olhos. Invariavelmente. O processo acaba quando respiro fundo e vomito o sapo inteiro, mal cheirosamente divido em pequeníssimos pedaços.

Quais os senões desta minha característica? Primeiro, o meu estômago é frágil e ressente-se, fico mal disposta durante meio-dia. Segundo, às vezes não aguento suster a respiração e o sapo é vomitado para o lado errado… Lá tenho de utilizar o balde, a esfregona e o CIF, para tirar o mau cheiro.

“Há que limpar”, até tudo ficar reluzente, como previamente se encontrava.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Esta madrugada escrevi assim (6)

Tenho brilhos a bailar nos olhos, cintilantemente curiosos. És tu, dividido em dois, repartido em pontos luminosos e espalhado por estes oculares globos que a mim pertencem. Resolvi fazer-te voar quase cento e vinte e oito quilómetros para bem perto de mim, para dentro dos espelhos da minha alma; e resolvi também desfazer-te em pequenos pedaços de luz para me abrilhantar a alma.
22 de Abril de 2009

domingo, 10 de maio de 2009

(sem título)

Nádia - ainda?!...

Andreia - tu já não me conheces? (LOL)

Nádia - Andreia...
ultrapassa!

(engulo em seco e repito muitas vezes)

ultrapassaultrapassaultrapassaultrapassaultrapassaultrapassaultrapassaultrapassaultrapassaultrapassaultrapassaultrapassaultrapassa

domingo, 3 de maio de 2009

Já dizia o rei Salomão

Tudo tem a sua ocasião própria, e há tempo para todo propósito debaixo do céu.
Há tempo de nascer, e tempo de morrer;
Tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou;
Tempo de matar, e tempo de curar;
Tempo de derribar, e tempo de edificar;
Tempo de chorar, e tempo de rir;
Tempo de prantear, e tempo de dançar;
Tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras;
Tempo de abraçar, e tempo de abster-se de abraçar;
Tempo de buscar, e tempo de perder;
Tempo de guardar, e tempo de deitar fora;
Tempo de rasgar, e tempo de coser;
Tempo de estar calado, e tempo de falar;
Tempo de amar, e tempo de odiar;
Tempo de guerra, e tempo de paz.

(in Eclesiastes 3:1-8)

Espero que este tempo saudoso passe depressa.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Música, como viver sem ela? (14)



Convosco, caros espreitadores, JP (leia-se, Jê Pê) Simões, e a sua "Música Impopular". Recentíssima descoberta, aceleradíssimo apaixonamento.

(ainda hei-de escrever sobre o seu concerto apertado, na Galeria Zé dos Bois)

É de saborear e sorrir por mais.

Um beijinho, bom fim-de-semana*

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Era uma vez dois chavões


Um dia destes resolvo soltar estas amarras que constantemente me imponho e parto, pura e simplesmente. Deixo para trás as ínfimas questões que faço brotar do chão e chamo de problemas, ignoro as dores que tenho à minha responsabilidade, largo as convenções e necessidades e vou, e voo.

Um dia destes, quando os impossíveis imateriais se transformarem em verdades concretizáveis, quando os astros se ordenarem e o tempo for o certo, perco o pé no areal e levito ao sabor do vento por entre marés inconcebíveis, deixo-me levar. Chegará o dia em que a sanidade fica em casa e o bom senso imperará apenas em questões extremistas, mortíferas.

É, num destes dias largo-me nas garras da sede de conhecer mais, de descobrir o lado inóspito e o lado aprazível das aventuras, sem cautelas nem providências, sem questões. Primeiro estou e depois já não. Ponho-me a caminho de uma terra nova e prometida, que se instalou dentro de mim e se quer materializar no mundo de fora. Sem olhar para trás, sem me esfumar em sal, sem recear.

Qualquer dia desses…”





P.S. Tirei a fotografia hoje, na relva apetecível que está ao lado da cantina.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Esta madrugada escrevi assim (5)


Há coisas que nunca mudam. Por exemplo, o teu timbre adocicado pela preocupação que as minhas maleitas levantam. E o riso que deixas surgir no intervalo das piadas que partilhamos. E o descaramento da tua reles e dissimulada sedução… o nome que não deixa de ser chamado, a carícia que a voz discreta e grave embala.

Assustadoramente imutável
.






P.S. Tirei a fotografia num agradável e chuvoso passeio por uma recôndita e desconhecida Lisboa.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Crenças

Estive, há uns dias, num aniversariante festejo, cruzando-me com personagens inúmeras e inesquecíveis. Um desses seres, o Y. (letra fictícia, bem se vê), marcou-me bastante. Não só a urgência de partilhar tudo no primeiro momento, oposta à discreta calmaria que dele se apoderava enquanto fumava “um pensativo” palito de nicotina, mas também a sua fisionomia reservada, cara breve e chupadinha, olhos afundados em sorridentes olheiras.

O Y. é filósofo, não desses de canudo em riste, em vias de extinção. O Y. é filósofo corriqueiramente falando, solta uma inspiração repetida quando mais se espera, revela o seu lado sensível e em contacto com o que o rodeia quando é suposto largar um cliché, desses que todos trazem no bolso e todos sentem como sendo só seus.

Não obstante tais coisas, fala de coração aberto, e disso eu gostei. Baila verdade nos seus olhos, mesmo que seja uma misteriosa e difícil verdade de conceber. Como quando ele afirmou, com um sorriso confiante, vaidoso e de quem ouve algo que já não o surpreende, depois de ouvir o célebre “tu fazes-me lembrar alguém…”: “Sim, eu sei, Ricardo Araújo Pereira!...”

E eu a pensar, a tentar descortinar, quem é que alguma vez lhe disse que ele se parecia com o Ricardo Araújo Pereira? Foram muitas pessoas e eu vejo mal? Ou foi apenas um alguém que se lembrou da péssima comparação e o Y. até gostou?...

Cada um tem as suas crenças”, já dizia o outro.

sábado, 28 de março de 2009

Apontamento (1)

No princípio é eterno. Condição estereotípica dos romances amantes. No final, é como o último traço riscado pela lapiseira na superfície folhal, é como o ponto final mais brusco que parte a ponta semi-rija. Deixa destroçada a mina de carvão fino, com múltiplos e minúsculos fragmentos sujando a brancura do imaculado papel. Para minimizar os estragos, passa-se uma brisa por cima e sopram-se os restos com o movimento da mão. Clica-se duas vezes na ponta do lápis que quis imitar a caneta e prosseguem-se os rabiscos. Até novo princípio, afigurando-se eterno, qual típico estereótipo de romances. E também de amantes.
Ao som de (clicar aqui)

quarta-feira, 25 de março de 2009

Epifanias

Ultrapassados estão os tempos em que me debruçava sobre uma folha em branco e de mim jorravam sentires mil, palavras sedentas de serem escritas, de serem expressas, de serem destituídas da sua característica efémera. Nos dias que correm, quando os meus olhos se cruzam com linhas vazias ou brancos rectangulares embicam num ponto final inexpressivo ou em reticentes reticências, como se nada houvesse que despejar ali, como se a folha estivesse bem assim, isenta de registos. Assim se desencaminham os meus escritos e também se esfumam as minhas vivências no poço raso chamado memória. Absorvo que nem esponja as lições diárias, bebo da vida como me julgava incapaz de o fazer, encaixoto todas as experiências, indexo, arrumo. Não verbalizo, não anoto, não partilho.

Como uma panela larga e de pressão, cozinho um creme de legumes. Fui posta em lume brando, com água, condimentos q.b. e ingredientes fundamentais. Tamparam-me como é próprio e colocaram no conhecido local o pipo, para que, no tempo certo, se dê a total ebulição e os fumos comecem a viajar pela cozinha, e os apitos se façam soar pela casa, e os cheiros se ocupem do ar inteiro, e se termine o cozinhado desse caldo espesso e altamente nutritivo.

Não queira eu, ignorante panela larga (e ainda para mais de pressão) apressar o processo. Cozinhe, como manda o Chefe, e me resigne eu à insignificante condição de esperar que todos esses fumos se acumulem e se escapem, que todos esses apitos soem ao derredor. Não queira eu tais coisas, não obstante as comichões que já se vão fazendo sentir.

Talvez já cheire a sopinha, digo eu, que não entendo nada disto.

terça-feira, 3 de março de 2009

Música, como viver sem ela? (13)



Instrumental, como eu mais amo.
Doce e aprazível aos ouvidos, como se querem todas.
Chama-se “I’m Old Fashioned”.
Traduz-me, por isso é a minha música de hoje.


Agora dêem-me licença, que a aula de Atitudes está prestes a começar.

Um beijinho*

segunda-feira, 2 de março de 2009

Das coisas que muito me incomodam

Idealista
adj. 2 gén.,
relativo ao idealismo;
s. 2 gén.,
pessoa sectária do idealismo; fantasiador; que tende para o ideal.

Idealismo
s. m.,
atitude que consiste em subordinar o pensamento e a acção a um ideal; idealidade; fantasia; devaneio;
Filos.,
corrente de pensamento que reduz toda a existência a ideias ou considera que toda a existência se determina pela consciência, opondo-se frequentemente ao realismo, ao empirismo e ao materialismo.


Ainda não percebi bem se o devo aceitar como verdadeiro, e se sim, se com o agrado de quem recebe um elogio, ou com o descontentamento de quem é reprovado.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Uma fotografia por dia* nem sabe o bem que lhe fazia (2)

Funciona assim: a Selma sorteia uma cor no seu cantinho, e durante a semana fotografam-se pormenores com essa cor. A desta semana foi o laranja, e confesso que não consegui tirar fotografias todos os dias; para este desafio, apenas terça e quinta-feira foram úteis. Estes olhos viram assim:
Terça-feira

Quinta-feira (por segunda)
Quinta-feira (por quarta)

Quinta-feira

Quinta-feira (por hoje, sexta)

A cor da próxima semana ainda não foi sorteada; é esperar (:
Quem quiser alinhar não se acanhe, ter uma Color Week (nome original) "é de grátis".

Um beijinho*

*útil

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Ali em baixo...

... estão as actualizações todas.

Acho que por hoje já é suficiente (:
Bom início de semana*

Uma fotografia por dia* nem sabe o bem que lhe fazia!

Funciona assim: a Selma sorteia uma cor no seu cantinho, e durante a semana fotografam-se pormenores com essa cor. A da semana passada foi o verde, e foi difícil resistir às paisagens e casacos verdes que povoam os meus caminhos habituais. Estes olhos viram assim:

Segunda-Feira

Terça-Feira

Quarta-Feira

Quinta-Feira

Sexta-Feira
A cor desta semana já saiu, laranja!
Quem quiser alinhar não se acanhe, ter uma Color Week (nome original) “é de grátis”.

Um beijinho*

*útil

Nove factos: três mentiras, seis verdades

Desta vez, quem lançou a batata quente foi a Fagottina.

Eu respondo assim:

1- Aproprio-me das expressões das pessoas de quem mais gosto.
2- Vivi quatro anos numa ilha.
3- Tenho um problema crónico no estômago.
4- Os meus desportos favoritos são observar e inventar palavras.
5- Tenho apetência para a pintura desde pequena.
6- É recorrente fazer barulhos estranhos quando estou distraída e quando durmo.
7- No que toca a bijutaria, adoro colares.
8- O que mais gosto na praia é ficar a jiboiar na toalha.
9- Se pudesse, só tinha vestidos no armário.


Passo o desafio a quem achou piada. Eu não sou boa no que toca a inventar mentiras, suponho que seja fácil adivinhá-las q:

Um beijinho*

Oito sonhos

Há já algum tempo que a Selma me lançou o seguinte desafio:

Ponto Cinco:

1. Escrever uma lista com 8 coisas que sonho fazer ou com as quais sonhe
2. Convidar 8 bloguistas a responder ao mesmo
3. Comentar no blog de quem partiu o desafio
4. Comentar no blog de quem desafiamos
5. Publicar as regras


Ponto Um:

1- Ser mãe de uma família grande, com pelo menos dois filhos adoptados.
2- Estudar no Seminário e trabalhar em missões mundiais.
3- Conseguir construir o meu projecto e vê-lo perdurar.
4- Ser capaz de conciliar os três sonhos anteriores, não vai ser pêra doce.
5- Poder viver uns anos de mochila às costas, com tudo o que isso implica.
6- Ter uma casa perto da praia, de preferência rústica.
7- Tirar um curso de fotografia.
8- Manter-me eu, infantil e desligada, definitivamente sonhadora, apesar dos muitos esforços exteriores no sentido contrário.

(os meus sonhos são de palavras pequenas)

Ponto Três:

- Carlix
- Cátia M
- Ervilha
- Fagottina
- Morais
- Nádia
- Wood
- (alguém que se queira incluir nesta lista?)

O ponto quatro fica para eu cumprir (:

Um beijinho*

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Chiado...

... meu palco de deambulações. Hoje fizeste falta.
(tirei-a num intervalo de três horas)

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Música, como viver sem ela? (12)




Mais uma vez, apresentada pelo amigo que só envia óptimas músicas. Apesar de já achar o Bobby McFerrin um artista fabuloso.

Hoje aprecia-se Blackbird. Um beijinho*

Frente & Verso (Colecção Visão) (2)

Não ouvi na rádio. Nem li num jornal. Tampouco vi a publicidade que nos salta dos cartazes na rua e do ecrã da televisão, e nos inunda os olhos.

Descobri assim: vinha do metro para a plataforma em que o comboio costuma parar, na estação que não é a minha habitual. Soube-me bem receber o sol que se punha apressadamente e admirar as sombras que as pessoas apressadas deixavam para trás de mais um dia. Faltavam catorze minutos e atrevi-me a repousar as pernas do passeio lisboeta dessa tarde. Ao sentar-me, dei de caras com um marcador de ar envelhecido (ou meio sujo) que me dizia que era já dia 12 que a Visão se lançava a vender livros apetecíveis por meio euro. Pelo ar do marcador, desconfiei da actualidade dele (é, ando distraída do mundo) e por isso confirmei no calendário da agenda. Sim, as datas coincidiam com todas as quintas-feiras, como apregoava o marcador esquecido por alguém ali no banco. E achei bonito, a maneira como as coisas acontecem; como as coisas que muito preso (entre elas, prosa e poesia) me encontram atrapalhadamente por apenas meio euro. Resolvi apropriar-me do esquecido marcador e “perdê-lo” no comboio que entretanto chegou.
Pode ser que algum outro distraído do mundo o encontre e o ache bonito, como eu.

Frente & Verso (Colecção Visão)

“Por exemplo: durante a missa, na capela, em Alba, Cláudia levantava os olhos para Xavier e era então que ele sentia uma espécie de milagre. O resto não contava. Nem o padre, nem o sanctus, sanctus, sanctus, nem o latim da missa que sobre ele exercia um fascínio misterioso. Nem sequer o Cristo no altar. A campainha do sacristão só tocava dentro de Xavier quando Cláudia erguia os olhos do missal. E só então havia no ar um cheiro a incenso. Era uma graça. Às tantas pensou que talvez fosse pecado. E contou ao padre. Mas ele disse: Agradece a Deus.”

Manuel Alegre, A Terceira Rosa


Eu suponho que não seja muito normal gostar muito muito muito de um livro à segunda página, mas também... é unânime que eu sou um bocado estranha.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Já diziam a Ana Carolina e o Seu Jorge...

Mas restou a saudade
É , pra ficar
Ai, eu encarei de frente
Ai, eu encarei de frente, menina
Se eu ficar na saudade
E deixar
Saudade engole a gente
Saudade engole a gente, menina




Acampamento Baptista, Crianças 2008

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Gosto (mesmo muito) de teatro, logo divulgo! (2)



Muito se escreveu sobre a adolescência. É caso para dizer, muita tinta lacrimejada jorrou sobre inúmeras folhas para registar ambíguos estados de alma, tão característicos desta idade. Muito se tropeçou em clichés válidos, tipicamente comuns, marcas sólidas das épocas pelas quais todas as pessoas, embora umas mais que outras, teimam em passar.

Porém, poucos foram aqueles que se atreveram, como Moisés Mato, a usar as palavras simples para descrever, de dentro para fora, o que vai num corpo adolescente. E ainda existiram menos visionários, como Manuel João, que orientaram o talento e genialidade de um elenco experientemente jovem, e montaram um texto de incomplexas palavras num grande espectáculo.

“Deixa-me em paz!” é, assim, fruto das linhas leves de um escritor/cenógrafo que ousou descomplicar a mais complexa fase da existência humana, aquela em que se almeja o equilíbrio entre o adulto que ainda não se é e a criança que se quer deixar de ser. “Deixa-me em paz!” é, de facto, um trabalho embebido numa sensibilidade ímpar, que não tem medo de se arriscar extravasando o que se mantém contido em tantos peitos dessa puberdade.

Um espectáculo de uma agressividade imprevisível, porque não há modo mais marcante de retratar idades cruciais, temperado por actuações fortes e cozinhado em grupo, que nos conduz a outro nível. Ainda que desniveladamente adolescente, sem dúvida, de teatralidade crescentemente impressionante.


FICHA TÉCNICA

Encenação: Manuel João
Interpretação: Inês Possante,
Pedro Gonçalves,
Nádia Mota,
Sara Freitas,
Rita Miranda e
Pedro Cortes
Dramaturgia: Manuel João
Figurinos: Carla Candeias
Grafismo: Pedro Cortes
Luz: Manuel João e
Equipa Técnica do Auditório Fernando Lopes Graça
Som: Manuel João
Fotografia: Andreia Barreiro
Cenografia: Colectivo
Teatro & Teatro
Montagem de som: Luís Batista
Produção: "O Mundo do Espectáculo”


Dia 21 de Fevereiro às 21.30h
AUDITÓRIO FERNANDO LOPES GRAÇA
FÓRUM ROMEU CORREIA
ALMADA

5€ Bilhete normal
3,50€ Bilhete jovem e senior

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Já dizia a Sarah Kelly...

No wonder i fell like i don't fit in here
No i'm not home yet
Thank God i'm not home yet


Just not home .

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

"No wonder we feel like we don't really belong here...

Gosto de caminhar e olhar o céu. Em 99% das alturas sinto-me tentada a parar no meio do passeio e contemplar o universo, apenas. Mas se já me tomam por louca por andar de olhos na lua, literalmente, quanto mais se estagnasse o passo e permanecesse alucinadamente impávida a observar a criação Dele… A verdade é que é impossível não fixar esse imenso céu, não calcorrear as ruas calmas pouco depois da hora do jantar só para olhar as inúmeras e imensas estrelas conscientemente dispersas por um infinito tremendamente eterno.
Sentir o vento frio soprar o cabelo em muitas direcções diferentes, aconchegar um lenço ao pescoço e experimentar o odor que a pele lhe passou, levantar não só os olhos, mas a cabeça inteira, para me deixar absorver por esse imenso céu, esse imenso eterno, essa imensa e fabulosa criação, tão transcendentemente intemporal. Nesses passeios destituídos de gente e de correrias, de fúrias e medos, destituídos de crises e clichés, destituídos de inseguranças e máscaras que a sociedade fabrica; nesses passeios nocturnos há luz e luz em abundância.
Porque perto do Rei tudo é mínimo. Tudo o que é terreno esfuma-se, dissolve-se num pó quase imaterial. Perto do Santo é tudo tão ineficaz. Nada resulta como as Suas soluções, nada conhece como o Seu olhar, nada ama como o Seu coração. Perto do Pai a relatividade é a mais óbvia das respostas, não há quem se compare à Sua magnificência.
E estar assim, perto, muito perto, como quando me sinto engolida pelo universo inteiro, com as suas estrelas a anos-luz de distância e as suas luas e os seus remotos planetas, é uma bênção e honra e privilégio de tal maneira grande que estas palavras todas são míseras migalhas de expressão, permanecendo muito aquém do que realmente experimento. Sim, acho que me vou deixar estagnar a meio do próximo passeio e permanecer em contemplação pura; só porque gosto muito de me sentir pequenina perto de tal obra, só porque me apraz mergulhar nesse imenso céu, apenas porque tal paz é imperativa.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Já dizia o Pedro(*)

(*) citando a matéria de Comportamento Organizacional:

"Os objectivos são energizantes!"

Eu bem tentei resistir-lhes este 2009, mas não passei do segundo mês. Fiz a lista, anexei-lhe um post it sugestivo e, para minha surpresa, expu-la. (É sempre bom expor objectivos, é partilhar a responsabilidade de não me esquecer deles). Assim sendo, considero-me bastante energizada. Espero que se reflicta no exame de amanhã, o último, e nos projectos futuros.

Selma, não me esqueci do desafio, mas os sonhos dão sempre muito em que pensar; e quero responder bem a esse desafio (:

Um beijinho*

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Parêntesis

(Lentamente, a neblina nocturna vai-se dissolvendo sob o efeito dum sol que amanhece glorioso. E com essa neblina que se levanta como quem não quer a coisa, também o fascínio se vai esfumando no ar, deixando os olhos mais abertos à realidade que os rodeia. Essa nébula de deslumbramento é um mui grande perigo. Pode permanecer intacta durante tempos longos demais, forçando os olhos à semicerração tola, encaminhando os pés para valas profundas disfarçadas de sorrisos antigos.

Sim, não há como o brilho honesto do sol matinal. Dissipa fantasias e realça o efectivamente verdadeiro; acorda as pálpebras para o que existe, de facto; relembra que de nada adianta viver em sombras indistintas, disfarçadas de prazeres ingénuos. Não há como viver na luz, bem certo do que é e do que não é. Evita mui grandes confusões
.)

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

O efeito Menina

Foi a W. quem mo mostrou e este é o sítio ideal para saber tudo acerca dele.
O mundo inteiro encontra sustentabilidade na simplicidade de uma menina. É sempre bom partilhar aprendizagens novas.



Um beijinho*