sábado, 20 de novembro de 2010

Isto faz muito sentido para mim, hoje em particular.

Let them shine.
Let them shine on.



Let me shine.
Let me shine on.

Das Letras.

Na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa lê-se e escreve-se. Há alunos espalhados por todos os lugares, lendo. Nos recantos recônditos do jardim, na escadaria principal (quais estátuas renascentistas, junto aos pilares), pelas mesas que se espraiam por todos os corredores, nos bares enquanto almoçam… respira-se a alma de quem bebe dos livros, quem se deleita neles e se perde, sem preocupações com o retorno. Enquanto isso, a luz brinca à apanhada com as paredes antigas, rasgando majestosamente as vidraças destas românticas janelas, deixando no corredor iluminado um cheiro a magia e a conhecimento que se empilha em estruturas neuronais.

“Em Roma, sê romano”, já dizia a popular sabedoria. Assim sendo, sento-me sem pudor na escadaria principal, redigindo estes dizeres e apaixono-me mais um bocadinho por isto aqui. Ninguém me estranha, como noutros lugares em que me aquieto para rabiscar grafismos meus; eu não sou desta casa, mas sinto-me (um bocadinho) como se fosse.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Extraviar

Perco-me nos interstícios das palavras, nos interstícios das pessoas, no aglomerado embrenhado que acontece quando se cruzam estas duas coisas, e se conversa.

Perco-me e refastelo-me no seu agradável sabor; crescer de mão dada é uma das melhores coisas que existe.

sábado, 13 de novembro de 2010

A dolorosa. (2)

No meio de tudo isto, o que me segura é o amor. O amor é mais poderoso que o desgastante e que o (percepcionado como) inútil constante investimento. Continuar firme transforma-se numa luta estrangulante; e o amor mantém-se a rocha onde repouso e recupero.

É a razão pela qual não fujo; fico e perdoo sem o input do arrependimento.

Suponho que amanhã seja mais fácil ver do que agora o é escrever.

A dolorosa.

Rasgou o ar com energia, o possante grito. Outros tantos rasgões se lhe seguiram, mais por dentro que por fora. Continuam a romper-se, uma por uma, as forças que nos sustentam. Até ao derradeiro tempo em que nada mais há que se retalhe.

“Faz o que eu digo, não faças o que eu faço.”

“Faz o que dizes, não digas o que fazes.”

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Trinta e dois.

Na quietude da casa o telefone soou alto. A chamada vinha de terras da Rainha, e nem era para mim. Sem saber, falou o que era certo, e sem notar fez-se mais fulcral em mim. Esta mulher que telefona pela noite dentro é para mim um exemplo e, não sabendo, alentou-me o coração, exactamente nesta altura crítica que a casa onde o telefone toca atravessa (e eu também).

“Elevo os meus olhos para os montes; de onde me vem o socorro? O meu socorro vem do Senhor, que fez os céus e a terra. Não deixará vacilar o teu pé; aquele que te guarda não dormitará. Eis que não dormitará nem dormirá aquele que guarda a Israel. O Senhor é quem te guarda; o Senhor é a tua sombra à tua mão direita. De dia o sol não te ferirá, nem a lua de noite. O Senhor te guardará de todo o mal; ele guardará a tua vida. O Senhor guardará a tua saída e a tua entrada, desde agora e para sempre.”

Deixou notícias. Que está bem; que “as famílias riem, choram, e riem outra vez”; porque ultrapassaram as circunstâncias trazedoras de lágrimas, e saíram delas mais fortalecidos. Disse também que hoje se festeja um marco na história desta família. Foi há trinta e dois anos que dois adolescentes e uma criança, saídos da sua terra natal, do seu lar, da sua realidade inteira, chegaram a esta pátria lusitana, para construir uma vida a partir da ausência de tudo.

Estou aqui, rodeada de todas as regalias e confortos, como prova viva de que conseguiram. Porque assim como Ele prometeu, Ele cumpriu.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Velhos hábitos.

Tenho o hábito de guardar e de datar. Uma folha de uma árvore, um rabisco intencional, um recado trocado numa aula, um talão de um jantar bonito, um bilhete de cinema, um laço de uma prenda, o próprio papel de embrulho, uma carta, um lembrete rabiscado ao sair de casa, tudo o que seja passível de reter, eu guardo e dato. Nas caixas e caixinhas que utilizo para o efeito, as memórias acumulam-se sem pressa, nem dó, nem piedade; aguardam, silenciosas, o dia em que me lembrarei de as ir espreitar.

Antes de enfrentar a barafunda que engoliu o meu quarto pela calada da noite, e motivada pelo piano que sussurrava o seu embalo no velho rádio, peguei na caixa da flor, a das memórias mais selectas. Estava embrulhada em pó, e não me preocupei em sacudi-lo; fiquei só a observar a sua beleza suja e rústica, e a gravar tudo como se de um filme se tratasse. O fecho, outrora fácil, fez-se difícil com a ajuda de alguma ferrugem, e precisou de um jeito extra para ser aberto. O conteúdo trouxe uma nostalgia atroz: entre embrulhos, bilhetes de Natal e de aniversário, flores secas e lacinhos da parfois, estava uma declaração de amor das mais bonitas que algum dia recebi. Foi escrita por uma amiga, numa altura de reconciliação. As feridas estavam saradas e as lágrimas secas; aquela carta foi o beijinho por cima do dói-dói que já havia passado; lembro-me de ter contido a alegria que se queria jorrar pelos olhos, de disfarçar com muitos gestos e risos à entrada do autocarro da visita de estudo, e de tagarelar todo o caminho com aquela com quem me reconciliara, que era a melhor amiga do meu coração.

Hoje não nos falamos. Apartou-se tudo: a cumplicidade, que foi morrendo, a confiança, que se foi desfazendo; tudo cozinhado com dureza de palavras e encruzilhadas de circunstâncias. Uma boa parte do que naquela carta está escrito será sempre verdade, e o resto voou.

O tempo, entretanto, vai roendo também as memórias físicas. Os talões e bilhetes vão ficando cada vez mais brancos, há embrulhos que já não me fazem recordar nada; todas essas coisas terão de ser lançadas fora, para dar espaço às memórias novas. Daquela que outrora foi minha cúmplice compincha, não eliminarei nada. Já que não pude guardar a sua amizade, não guardarei o rancor pelo seu término agreste. Guardarei apenas a memória dos dias em que ela existiu.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Natal

Aproxima-se a passos largos a celebração do nascimento de Jesus, e esta é uma festa que me arrepia. Podia celebrar este aniversário o ano inteiro sem me importar, com ou sem frio, com ou sem neve. Agora que atento na frase anterior compreendo que é mesmo isso que faço, cantando as suas características canções constantemente, agradecendo-Lhe em oração a Sua existência e a maneira brilhante como escolheu conversar directamente com a Humanidade.

Este é, portanto, o momento em que os arrepios atingem o seu auge. Cristo, o Salvador, nasceu. As estrelas não se cansam de o anunciar, os anjos são responsáveis por entregar a Boa-Nova e o curso da História do Homem muda para eternamente. O próprio Deus fez-se bebé e ei-Lo, tão perfeito e próximo que qualquer um se Lhe pode dirigir, pois Ele veio para abraçar a totalidade do Mundo.

E essa noite santa, silenciosa, plácida, terna e avassaladora, invade-me e amaina-me. Cessam as inquietações, as fúrias, as trivialidades que arreliam, “as coisas de baixo”; é tempo de contemplar o que do Alto veio, e ficou.

Obrigada.

Obrigada.

Obrigada.

Ao som de (clicar aqui)