segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Aurora


Lembro-me de adormecer sob um cobertor de estrelas, num terraço de Aladino e com o embalo daquela língua estranha e rápida, vinda de outras janelas, mais altas que a nossa. Lembro-me de acordar com o sol, pontual e inequívoco, às cinco e meia da manhã, e os pássaros no seu chilreio em crescendo, até atingirem dinâmicas fortes demais para os meus ouvidos. Lembro-me de fugir para o quarto-verde a essa hora matutina, e dormir ainda mais um pouco, até não conseguir suportar o calor.

E ao acordar definitivamente, ficar a observar tudo à minha volta, desapressadamente. Olhar para aqueles que ainda dormiam lá fora, com os corpos desarrumados e misturados nos sacos-cama todos espalhados; ver os verdes das costuras das almofadas e respirar o bafo quente que o vento fazia correr pela casa, sem grandes pressas. Mirar o tecto e os enfeites nas paredes e os sacos de viagem, sempre arrumados. Os restos das migalhas, espalhadas na mesa, do delicioso pão que tínhamos comido no ontem passado…

Lembro-me de chorar de gozo, logo pela manhã. E dizer “obrigada Papá, porque estou a viver. Como Tu queres, e como eu mais gosto” no segredo do meu coração.






P.S. Depois de lavar os dentes e beber muita água, lá tirei essa (e outras fotografias) à janela do quarto-verde.

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