terça-feira, 2 de junho de 2009

Epifanias (2)

Lembro-me perfeitamente da noite em que soube ter entrado para o ensino superior. Lembro-me de ter entrado naquela que era a primeira opção do bom senso, totalmente contrária à primeira opção da vontade pura. Lembro-me de todas as borboletas que resolveram passear-se pelo meu estômago sem sobreaviso, lembro-me do brilho nos olhos do meu pai. (Acho que até então não tinha plena consciência do que esta entrada significava para ele). Lembro-me dos telefonemas das minhas tias e das suas vozes envolvendo-me num abraço forte, de expectativa, de felicitação, de força para o que aí vinha. Lembro-me da praxe; ah! Se me lembro… da praxe à qual não queria ir nem morta, da praxe que se iniciava todos os dias às sete da manhã, das rixas contra os outros cursos, do laço doloroso que se cria entre caloiros, inevitavelmente. Lembro-me da primeira vez que conversei com as pessoas que agora se afiguram marcos incontestáveis em mim, lembro-me do fascínio a cada matéria nova (que, felizmente, ainda existe) e também me lembro do confronto chocante com a expressão “bibliografia da cadeira”. Lembro-me, também muito bem, da dificuldade que senti em traduzir tudo o que se passava em mim naquela altura, de não conseguir descrever o vulcão em erupção plena, e ainda para mais catastrófica, soltando cinzas e muitas nuvens ardentes. Lembro-me de agradecer ao Pai, de forma fervorosa, esse bendito bom senso inicial, e de percepcionar, a cada dia que passava, que não podia ter entrado em sítio melhor, em curso melhor, com pessoas tão singulares. Especiais.

E só agora me apercebo de que recordo este primeiro ano com um sorriso grande, grato e contemplativo, porque ele já passou. O primeiro ano já passou, apesar de faltar ainda um mês para a conclusão do dito momento de avaliação. Agora que o Verão se impõe peremptoriamente, agora que já são combinados passeios e estudos fora das abafadas paredes da biblioteca, agora que o ritmo suaviza e o material de estudo engorda; agora já surge a consciência de como o tempo correu, veloz e sem piedade.

Até custa a crer que um já está. Como diz o bem afamado professor (rápido e sem respirar):
“Ai é tão bom já foi.”

4 comentários:

Anónimo disse...

que bom querida :) aproveita mesmo cada dia porque passa a correr!!! as maiores bênçãos o Alto para o que ainda está para vir e muitas graças pelo que já aconteceu e por todas estas experiências e sensações maravilhosas que já viveste

Rebeca Pascoal disse...

rápido e com muito sucesso, com toda a certeza! :)
Parabéns e que as bençãos do Pai, continuem sem parar minha querida. Iguais a ti, já se fabricam poucas.

..carlix.. disse...

São emoções que do momento mas que ficam na recordação. Bons ou maus, são momentos que ficam na nossa história de vida, porque afinal, são 5 anos que passam rápido... porque são vividos com uma intensidade diferente do habitual. E ninguém nos tira!

Boa sorte para a fase final.

Beijinho

Anónimo disse...

E que bem que tu escreves. *