quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Apontamento (2)


Continua a correr, não pares – gritava a voz longínqua de um vento inanimado. Era uma força que vinha com lágrimas, eram lágrimas que não cessavam de acorrer aos olhos, de tempos a tempos. Era um grito distante e audível, um grito incessante; indubitável.

Parar era uma vontade que crescia insustentavelmente. As pernas, os abdominais, os pulmões pediam descanso, clamavam por uma pausa, mais e mais. Parar não era (não é) opção, sucumbir ao cansaço, não.

(Às vezes, quando essa força mascarada de ventania se abranda, cresce mais a vontade de desistir, de chorar apenas. De largar o corpo no tempo e deixar todas essas dores esvaírem-se em muitos soluços seguidos. Às vezes, quando o sorriso esmorece, não correr é mais tentador, mais fácil.)

Continua a correr, não pares – há uma meta para cortar lá à frente, há um alvo para atingir, há uma diferença para marcar. Mentalizar a respiração, regular o corpo para a sintonia da persistência. E sem olhar para trás, manter o ritmo; continuar a correr.









P.S. Fotografei esse pedaço de trilho (algures) em Águas Santas.