quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Histórias bonifácias

O meu amigo P. tem um talento nato: descortinar pessoas. Se algum dia tivesse de acontecer, o seu epíteto poderia ser mudado para Profiler sem quaisquer problemas, tal é a sua perícia. Às vezes penso que ele pensa que, quando enfatizo este seu traço, o estou a criticar. Não estou, como já se nota. Constato apenas.

O meu amigo P. crê que eu analiso tudo constantemente, como o acuso de fazer. Ele crê nisto com muita força, pensado que incorro numa falácia grandiosa quando lhe aponto tal comportamento. Ele não sabe, de todo, que o que mais me apraz não é analisar; é só olhar. Gosto tanto de os ver, àqueles que agora conheço mais fundo, saber como os seus risos rebolam desavergonhadamente, saber os seus jeitos, os maneirismos que lhes compõem as falas. Saber, de cor, o que mais lhes agrada, e também o inverso, como brilham os seus rostos entusiasmados e como agem quando o incómodo domina.

Só olhar, só para saber. (Só para poder gravar em mim.) Sem pretensões analíticas, sem objectivos catalogantes. Absorver tudo, apenas. E sorrir ao revê-los nos preâmbulos das minhas memórias, sorrir e saborear, revivendo tantas partilhas. O P. não sabe que é assim que eu sou mais feliz.

Um dia conto-lhe.

1 comentário:

Rebeca Pascoal disse...

lembrei-me agora de um sotão com um escadote que eu não conseguiria subir e de umas gargalhadas à pala disso. ahahaha, Bonifácios! fantástico