quinta-feira, 9 de julho de 2009

O homem dos pés nus

Ele tinha sempre os pés descalços, sem sola, sem protecção. Todo e qualquer soalho era confortável o suficiente para prescindir de sapatos protegedores. Quando andava, ele ria sempre, sempre. Com todos os seus dentes francos (e brancos), ele inundava quem o circundava com o som envolvente do seu gargalhar-sabe-bem. Andava descalço e não se importava. As suas manias de chefe (ou dom de ser chefe?), aliadas ao 'bom feeling' do seu espírito, impediam quem quer que fosse de se aborrecer com tamanho à vontade, e mesmo quando tal impossibilidade era tentada, o assentir assertivo e sincero dos seus olhos era tal que a situação se desaborrecia automaticamente. Ele tinha sempre os pés descalços, ria muito, e tinha o coração no Céu, perto de Deus. O seu carácter inusitado emanava atracção, o seu objectivo claro puxava pela admiração, e a sua terna predisposição… bem, sabia bem; sabia a bom.

Esse homem cruzou os seus descalços pés com aquela mulher, que fechava os seus todos os dias, num par de ténis. E qual não foi o espanto do mundo quando caminharam paralelamente um ao outro, de pés desencontrados num solo estranho, e mãos dadas num ar que os levitava como se de uma bolha de sabão se tratasse (porque importava mais o abraço caminhante que davam que outra contingência qualquer…)

O mundo não está preparado para coisas como esta. Talvez precise de entender que eu não me limito a inventar histórias. Eu limito-me a relatá-las.

1 comentário:

Anónimo disse...

que posso dizer?
uau!

não sei se de uma autobiografia se trata, mas que interessa isso?! Esta palavras foram deliciosas de ler e de materializar, de imaginar.
um beijo muito grande amora*