sábado, 29 de agosto de 2009

É assim que se faz.

(…)

L: Espero que te habitues a essa ausência do "músculo central", como descreveste. Eu ainda não me habituei. Uma coisa te garanto: aprenderás a disfarçar essa dor, que suavizará com a certeza, às vezes leve, que voltarás.

A: (…) Era essa a resposta que procurava, porque foi essa resposta que a ausência de coração me deu logo e precisava de confirmação… Agora não parece que me vou habituar; andar sem coração é muito esquisito.

L: Olha, eu demorei, sem exagero, três meses com essa aflição. E depois a ausência permaneceu, mas a dor ficou mais sossegada, mais silenciosa… recordo ainda com muita intensidade, e tento falar pouco disso, porque é como se ausência se carregasse (…) isto para dizer que percebo o que sentes, que percebo essa irritação que não tem só a ver com o facto de perceberes que estás num país tacanho, que não tem só a ver com a tua mentalidade que se abriu, mas com o facto de já não quereres estar aqui, mas noutro sítio. Por quereres levar o teu corpo para onde está a tua alma (…) E se realmente não tiveres oportunidade (que eu espero sinceramente que tenhas) de visitar Marrocos num futuro próximo, viverás numa recordação constante, numa esperança constante, numa saudade constante! Ao início falarás muito sobre as coisas, mencionarás coisas que se passaram quando tiveres oportunidade e até em momentos menos oportunos… e depois vai doer-te se falares. Então não falas, recordas só… (…) Eu espero mesmo que tu vás na Páscoa e que possas ir sempre que assim se proporcionar… Até, se Deus quiser, ires para lá fazer o que desde o início tens certeza que gostavas e queres fazer

A: (…) tu estás a traduzir-me e isso sabe bem mas também sabe mal; porque sentir tantas saudades assim só faz buracos na alma e eu receio esses buracos, tanto… porque o meu mundo é de príncipes e cogumelos.

L: Nós também precisamos desses buracos para saber quem somos… algo morreu, mas algo também nasceu, percebes? (…) É como se, no fundo, se anulassem. É retirado um pedaço e colocado outro. Tens que olhar para o que foi acrescentado, para o que te faz sentir bem, para o que te faz sentir uma certeza (…) A felicidade a encher o peito, e encher de tal maneira, porque nos conseguimos encontrar num pedaço de terra.

(…)

(O diálogo acima apresentado é real, e nesse diálogo a A sou eu.
Não só, mas muitas vezes, as melhores respostas vêm dos melhores amigos.
E especialmente dos melhores amigos que escrevem melhor.)

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