terça-feira, 8 de dezembro de 2009

"Vai masé trabalhar!"

Confirma-se: custa demais tentar compor ideias que não têm ordem certa para sair da cabeça. Quanto mais se tenta menos se consegue, e o cheiro a forçado impregna-se num texto que nem escrito à mão é. As interrupções desajudam a expressão pouco clara das ideias originalmente embrulhadas em si mesmas: uma revista cai sobre outras tantas iguais a ela, a progenitora pigarreia contra os cansaços que a perseguem, a responsabilidade sopra ao ouvido que “o tempo escasseia” e há muito que cumprir… e só apetece regressar ao melhor momento de ontem, quando, alheada da real correria das pessoas sérias e obrigações adjacentes, gastei euros a mais em frutos secos apetitosos, pousei os pesos vestidos por uma mochila cor-de-flor-de-princesa num banco frio (onde também me sentei), e fiquei a ver a vida acontecer.


(e o senhor B Fachada cantou docemente ao meu ouvido as maravilhas de uma estação em que não estamos, com frases emprestadas pela primeira dama do jazz)

Quero outra vez, só por instantes, ficar a ver o tempo passar. E compreender que posso gastar tempo a sentir o tempo durar no relógio, sem pressa. Ficar apenas assistindo, vendo os transeuntes para lá e para cá, desviando-se uns dos outros, de fatos, de saltos, de gorros, sorrindo, chorando, conversando ao telefone, sozinhos, acompanhados, bonitos (todos), ouvindo o ar, esperando por um carro que é auto (na beira da estrada), com brilhos apaixonados nos olhos. A humidade abraçando as árvores e humedecendo as pontas dos meus cabelos, o sol alaranjando o céu, ausentando-se para que a escuridão enevoada pudesse exibir a sua lunar jóia.

O sabor bom dos frutos quentes e secos (e a Primavera pintada de bonito pelo senhor B Fachada). O tempo a passar devagar no relógio para onde eu não precisei de olhar. E o hálito tépido a condensar os pequenos pedaços da atmosfera que conseguia atingir.






Vou masé voltar ao trabalho.

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