sábado, 3 de maio de 2008

Bifurcação

“Vai!”, disse-lhe enquanto ia. Dizia-lhe que fosse, mas quem partia era o seu corpo, cansado da letargia em que se tinham afogado. Partiu e caminhou durante dias. Desbravou um caminho duro e incerto, o caminho que se tinha impedido de percorrer durante tempo indeterminado; o seu próprio caminho, o da sua alma. Assim andava, assim crescia, assim melhor se conhecia.

Ao esforçar-se em demasia, descansou; três dias apenas. Estando o corpo recuperado, percorreu aquele caminho já trilhado, desta vez, porém, na direcção oposta. Queria reencontrar o outro corpo; aquele que albergava a única alma capaz de entender a importância da partilha das descobertas que tinha feito na sua jornada. Ao alcançar o local de partida, encontrou-o destituído de quaisquer passos, quaisquer corpos, quaisquer marcas da presença de quem pretendia encontrar. E clamou durante longos minutos, gritou sem cessar. A voz falhou. Os braços caíram, arrastando o esqueleto para o solo. A sua respiração sôfrega e intermitente parecia estar prestes a cessar.

Pensava já ter caminhado tudo, mas esta era a bifurcação que tanto pavor lhe suscitava. Partir. Ou permanecer.

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