quinta-feira, 15 de maio de 2008

Declaração (2)

A percepção para certas realidades aguça-se em mim há medida que os meses e os dias vão passando. As constatações são constantes e pertinentes, factos meus que eu desconhecia. A situação que me tem criado mais incómodo nestes últimos tempos está a tornar-se exasperante. E não pelas razões esperadas; exasperante não por culpa de quem vive no outro corpo, mas porque estou a ter inúmeras dificuldades em lidar com tal conjuntura.

Convivo com este outro ser durante a semana inteira e, por força das circunstâncias, em alguns fins-de-semana. É uma personagem deveras peculiar, como, aliás, o são todas. Tem imensa propensão para a inconveniência, peca por ansiar objectivar, registar, expressar, marcar tudo e mais qualquer coisa. Tem algumas das suas ideias demasiado fixas, e por vezes custa-lhe afastar-se das mesmas. Apesar de tudo, parece, a quem de fora observa, uma paz de alma, e verdade seja dita, paciência e capacidade de trabalho são qualidades que não lhe faltam.

Ora, juntando todos os elementos acima descritos obtemos alguém com quem pode ser, ao mesmo tempo, excelente e péssimo trabalhar. Excelente quando efectivamente trabalhamos, quando somos incisivos e cumprimos objectivos preestabelecidos, quando se distribuem tarefas e se apresenta o resultado do esforço. Mas péssimo quando toca a tomar decisões, a partilhar alvos, a estabelecer prioridades. Péssimo quando é preciso tomar decisões rápidas e eficazes, falar menos para se passar à acção mais rapidamente; péssimo quando se torna exasperante explicar o essencial de uma ideia e se é constantemente interrompido com objecções.

É uma grande espada de dois gumes e nunca fui muito boa no manejo da mesma. A mostarda alcança as narinas facilmente, dado que também o meu temperamento é difícil. Tenho muita dificuldade em ignorar, menosprezar, não ficar aborrecida com comportamentos inusitados e descontextualizados. Já sei, já sei. Não devo dar tanta importância a manias menores, não devo ligar e aborrecer-me com ninharias. Mas já dizia o ditado “ninharia a ninharia enche a ‘stressada’ o saco”.

É dar-Lhe ouvidos na hora da irritação, deixar que Ele me acalme e me aclare as ideias. Sim, porque se tal não sucedesse, há muito que as verdades já teriam saído disparatadamente. Deixariam, assim, de ser verdades, passariam a insultuosas faltas contra o outro ser, do outro corpo. (suspiro) Já me julgava tão grandinha. Ainda tenho tanto para crescer.

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