domingo, 12 de junho de 2011

Os dois

Fui separada à nascença da minha terra natal e de todas as delícias que lhe pertencem. As minhas tias ainda eram novas quando emigraram pela segunda vez, vi os meus primos crescer ao longe, assim como eles a mim. Quando entrei na idade dos verdadeiros melhores amigos eles eram sempre (e ainda são) de longe, tendo tido, por isso, o privilégio de arranjar grandes arrelias devido a contas de telefone dispendiosas e selos (muitos selos).

Como é que, então, ainda não me habituei às despedidas, às comunicações transatlânticas, a ter a minha vista longe dos meus? Como é que ainda não aprendi a criar imunidade à dor da falta, e como posso conceber estar em tantos países com tantas pessoas que amo ao mesmo tempo? Para disfarçar, vou sorrindo e limpando as lágrimas, ignorando o futuro custoso que a ausência trará e acenando, mais uma vez; sonhando com altos vôos e gritando um esperançoso "até breve" (aos pedaços de coração que embarcam para outras terras).

(suspiro)

Esta dicotomia - a nostalgia da saudade e a necessidade de voar para se fazer inteiro noutras paragens - só é passível de ser compreendida de duas formas: ou se é português, ou se é emigrante.

Eu sou os dois.

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