domingo, 11 de dezembro de 2011

"Se eu soubesse"

Não sei bem como é que um músico se consegue aprimorar de forma explícita e contínua, como se essa superação fosse fácil e imediata; mas isso acontece e a prova viva é o senhor Chico Buarque. Muito há a dizer acerca dele e deste seu último disco, mas nem as palavras são suficientes nem o tempo estica. 

(Receio que vá cair nas minhas mesmices, nas expressões de sempre, mas não importa.)

Nesta música ele conjuga palavras simples, vozes aveludadas e notas que escorregam pelos ouvidos com uma suavidade ímpar. Não sei bem como é que isto se faz, mas arrisco-me a dizer que é preciso ser-se um génio-fazedor-de-delícias. É preciso ter a alma entranhada em sensibilidade. É preciso conhecer os silêncios e os barulhos das sílabas enroladas na língua. É preciso usar mais que os dedos para fazer soar as notas. É preciso tempo, experiência e humildade. E se, para além disto, é preciso mais alguma coisa, esta "Se eu soubesse" prova que o Chico Buarque tem.


Ah, se eu soubesse não andava na rua
Perigos não corria
Não tinha amigos, não bebia, já não ria à toa
Não ia, enfim, cruzar contigo jamais

Ah, se eu pudesse te diria, na boa,
"Não sou mais uma das tais
Não vivo com a cabeça na lua!"
Nem cantarei "eu te amo demais";
Casava com outro, se fosse capaz.

Mas acontece que eu saí por aí
E aí... larari larari larara lariri!... 

Ah, se eu soubesse nem olhava a lagoa
Não ia mais à praia
De noite não gingava a saia, não dormia nua.
Pobre de mim; sonhar contigo, jamais.

Ah, se eu pudesse não caía na tua conversa mole outra vez,
Não dava mole à tua pessoa.
Te abandonava prostrado aos meus pés,
Fugia nos braços de um outro rapaz.

Mas acontece que eu sorri para ti
E aí... larari, larara, diriri!...

pom, pom, pom, 
pom, pom, pom, pom, pom
pom, pom, pom, 
pom, pom, pom, pom, pom

Ah, se eu soubesse nem olhava a lagoa
Não ia mais à praia
De noite não gingava a saia, não dormia nua.
Pobre de mim; sonhar contigo, jamais.

Ah, se eu pudesse não caía na tua conversa mole outra vez,
Não dava mole à tua pessoa.
Te abandonava prostrado aos meus pés,
Fugia nos braços de um outro rapaz.

Mas acontece que eu sorri para ti
E aí... larari, larara, diriri!...
Larari, larara, larara lariri!... 

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