quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Fora de ordem (13)

Mateus 5:29-30 é uma exortação a que se tenha uma concepção mais profunda do adultério. Esta passagem encerra o princípio de que se há algo em mim que me faz tropeçar, cair, cambalear, esse algo deve ser decepado do meu ser, cortado, peremptoriamente eliminado. É um princípio radical e, em certa medida, escandaloso. É difícil aguentar as consequências de uma amputação, seja ela de que ordem for. Se há corte, tal decorrerá em ausência, e lidar com essa ausência implicará novas aprendizagens, novos mecanismos; implicará a adaptação a uma realidade distinta e, numa fase inicial, adversa e repugnante. Os mesmos versículos não nos dizem que aquilo que necessitamos de amputar em nós é mau em si mesmo; pelo contrário, o que é a pedra de tropeço de um pode ser a muleta de outro; estes versos convidam à auto-análise e à decisão peremptória, não por fanatismos, mas pela profunda auto-consciência das fraquezas que compõem a cada um.


Tudo isto para dizer que eliminei definitivamente a minha conta no facebook. Segundo o site, ainda terei 14 dias para reconsiderar. Depois disso, nem um resquício da minha conta (embora se saiba bem que a minha informação, irrelevante, ficará armazenada como aqui se conta). Só sentirei verdadeiras saudades do que ali se partilhava em secreto, e dos mimos que trocava com os meus queridos que estão muito longe. De resto, entre a procrastinação e o descuido, entre o falso acompanhamento da vida das pessoas e a cábula para recordar o dia mais notório das suas vidas (o primeiro), só suspiro de alívio.

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