sábado, 25 de outubro de 2014

Queluz (2)

Queluz, 28 de Agosto de 2014

Rumei ao Monte Abraão, o coração aos saltos, os olhos a conter as lágrimas. Passei Benfica, Reboleira, Amadora. E cheguei. Desci aquelas mesmas escadas sujas, passei as portas de segurança, atravessei o túnel que cheira (e desconfio que cheirará sempre) a xixi.

Tive tantas saudades.

Demorei-me no céu azul de Queluz, com as suas pontuais e perfeitas nuvens, e calcorreei as ruas que me levam ao parque, que será sempre a parte mais bonita. Sonhava com um pãozinho cheiroso na Império, e talvez um chá, ou um Compal de pêra. Que aperto no peito ao ver os cartões nas janelas, os balcões desmantelados, os canos pendentes. É tão duro encontrar estas vistas mortas, estas portas cerradas.

Porém, um pouco mais à frente, dei com a pastelaria Arcos Reais, com "fabrico próprio", e o senhor cujo nome desconheço prontamente me serviu, com alegria e vigor, um sumo "de fruta biológica" especialmente sugerido para meu exclusivo deleite: "menina, se não gostar não paga!".

Bebo enquanto escrevo e este sabor ímpar a fruta fresca e verdadeira sacia-me a fome, e imprime esperança ao meu dia. O meu coração dilacerado pela portuguesa saudades está grato, imensamente grato, pelo privilégio de tornar a casa. 

É bom saber que "por muito que as coisas mudem, há coisas que nunca mudam". E Queluz continua a ser "o melhor lugar para se viver".



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