quinta-feira, 11 de junho de 2015

Tempo e dinheiro

Não me lembro de viver sem pressões financeiras. Desde que, ainda menina, comecei a ter noção de quanto custavam as coisas que queria/precisava, sabia que essas noções eram preciosas porque o dinheiro não era abundante - era simplesmente suficiente (graças a Deus). Nunca tive tudo quanto quis, e se de facto queria alguma coisa supérflua (ou, às vezes, necessária mas mais cara), precisava de trabalhar para ela (juntando e esperando com paciência).

Não me lembro de viver sem a preocupação do tempo. Os meus pais são opostos nesse sentido: a disciplina casou com a protelação (não digo quem é quem). Eu sempre pendi mais para o lado da última do que da primeira, e desde o mítico ano de 2011 que a minha luta tem sido endireitar esta tendência. Estratégias, conversas e ideias firmaram em mim uma profunda convicção que esta é uma área de redenção em que Deus está particularmente interessado - a erradicação de maus hábitos e a edificação de hábitos saudáveis.

Quando deixei de viver permanente em casa dos meus pais, a combinação destas duas coisas passou a estar no centro das minhas reflexões. Sonhos grandes resultam em gastos grandes. Gastos grandes requerem muito trabalho. Muito trabalho resulta em pouco tempo livre. Pouco tempo livre implica doses extra de criatividade para continuar a investir nos sonhos grandes. E sempre assim.

O dinheiro continua a ser sempre o suficiente, nunca deveras abundante; o pão nosso de cada dia é o mais saboroso que há, mas tal como o povo de Israel, impaciento-me com o maná diário (e reclamo que quero mais). A luta com a gestão do tempo é travada diariamente; com o seu passar, com o crescimento, os sucessos vão superando as derrotas. Mudar de país adicionou complexidade a estas questões. Aprendi com a minha família emprestada que, por muita insegurança e instabilidade que experimentemos, temos sempre a hipótese de escolher viver com uma mentalidade de escassez (preciso de armazenar tudo o que puder para nunca passar necessidades), ou com uma mentalidade de abundância (o Senhor é soberano e sustentador, posso usufruir do fruto do meu trabalho, partilhar e descansar). Soa simples, mas não é. E escolher a segunda hipótese é quase uma disciplina espiritual. É aprender a não viver como se a minha sobrevivência dependesse de mim. É lembrar-me todos os dias que o Senhor não é viciado em trabalho, e que, como diz a Isabelinha "o limite do homem é a oportunidade de Deus".

Espero nunca me esquecer do que aprendi desde pequenina: que o fruto de usar bem o tempo é uma vida regrada (que até tem espaço para improvisos); que o fruto da boa mordomia do dinheiro é uma vida simples e sem dívidas. Espero continuar a aprender, agora que cresci mais um pouco: que Deus é fiel e me chama a partilhar recursos; que posso sempre descansar na Sua abundância e plenitude; e que Ele graciosamente me dá a alegria de usufruir da obra das minhas mãos. E quando eu chegar ao meu limite e não tive/puder mais, Ele completará o que está em falta. É assim. Sempre foi assim. Será sempre assim.


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