terça-feira, 29 de novembro de 2016

Provável fim do interregno

Quero escrever acerca de alguma coisa que saiba
Expor e redigir documentos acerca de um assunto que domine
Falar numa língua que conheça
Sentir que, sim senhora, há qualquer coisa pulsante nesta cabeça.

Quero falar sem interrogações, com segurança e firmeza
Ser especialista em qualquer coisa, pode até ser na teoria da batata, ou do carapau de corrida...
Quero saber as regras, as linhas ténues onde a cultura se desenha e compõe
Quero entender o que é de mais, o que é de menos, e como evitar ir parar a esses sítios desconfortáveis.

Quero poder dizer o que penso sem pisar ovos
Ou "fazer xixi atrás do arbusto", como aqui se diz.
Quero a assertividade do amoroso "sim, sim, não, não"
Ser capaz de fugir da malabarista manipulação dos sentimentos de culpa.

Quero não ter de usar o tradutor do google a toda a hora e a todo o instante
Ainda para mais quando, após terem passado apenas três anos, já há vocábulos lusitanos que escorregam para o lado do esquecimento.
E, de repente, tenho de me forçar a continuar a aprender a minha língua mãe...
Quero a minha pátria sempre em mim, sem mutações, sem vacilações.

MAS

Escrevo papéis acerca de teorias e conceitos e terapias que, sinceramente,
São muita areia para a minha camioneta.
Leio e escrevo em estrangeiro, sempre naquele limbo perigoso entre o riso descabido e o pranto descontrolado - o limiar da loucura.
Sinto o cérebro a esticar, a esticar, e a clamar: "arrebenta a bolha!"

Regressei à idade das perguntas:
"Como se diz isto?" "Como se diz aquilo?" "Porquê?" "Como assim?" "Como se escreve?"
Pergunto e, para melhorar, se não escrevo, esqueço-me daí a cinco minutos.
Pergunto, e pergunto, e às vezes tenho de fingir que entendo (porque é por demais embaraçoso perguntar outra vez - acontece muito em cafés e supermercados)

Às vezes acordo cheia de cuidados - canadianinha em expansão
"Peço desculpa, peço desculpa..."
Outras vezes, a sensibilidade cultural tira férias e aí vou eu: tuga!
Faço barulho, confronto, e depois ando dias a lidar com as consequências.
Mas é nesses dias quem, para o bem e para o mal, sou quem sou...
Posso sair da minha terra, mas a minha terra não sai de mim.

O tradutor do google é um amigo mais chegado que um irmão
Bússola fiel e constantemente aprimorada pelos senhores engenheiros
Graças a Deus!
E quando a cabeça lateja de tanto inglês,
Fecho a porta e, de auscultadores nos ouvidos, viajo até casa nas melodias dos poetas e artistas que Deus deu ao meu querido Portugal.

When the day comes to an end and I lay on my bed, I give thanks.
For this amazing country, for the sweetness of its people,
For God's provision, and strength, and the miracle of doing a Masters at Tyndale.
For the multiplication of family, for deep friendships, for sisterhood.
For living surrounded by love, and grace, and second chances (every morning).
I even give thanks for singleness! (still a work in progress...)
I give thanks to God for planting me here, in this new land, and stretching me beyond measure.
Because through it all I'm learning how to live utterly dependent on Jesus, and Jesus alone.
I give thanks for the good days and the bad ones,
For the Holy Spirit living in me, who causes me to love God and live for Him.
I give thanks, and pray for the people God has given me across the globe.
And, yes... lately, most of the times, I do it in English.

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