quinta-feira, 4 de setembro de 2008

“Não há quem vos entenda! (risos)” (*)


Foi o cabo dos trabalhos para me fazer parar de falar em ir estudar para fora. O ímpeto característico desta idade de querer sair do ninho, da zona de conforto, e abdicar do comodismo que me é tão querido para viver e estudar mais longe fazia sentir-se como um espirro ou uma comichão… era imperativo ceder ao dito cujo.

A matriarca já não sabia a que técnicas recorrer para cessar tais conversas, tais intentos. Dizia, e dizia bem, que não sabia a sorte que teria se ficasse a estudar perto de casa. Eu nem pensava na sorte, só sentia aquele formigueiro leve de querer muito conhecer verdadeiramente um lugar novo. E no meio de arrumações, organizações e coisas que tais, o meu irmão entrou no quarto devagar, como quem não quer entrar realmente, e perguntou a medo:

“Então, estás a preparar-te para a faculdade?”
“Sim, estou a ver se arranjo espaço para os livros que vêm aí…”
“Pois… mas vais-te embora?... Vais ter de levar tudo contigo não é?”

Como sempre, os olhos dele diziam mais do que as palavras que proferiu. Estava verdadeiramente incomodado com aquela hipótese, ainda que remota, de poder ter de empacotar tudo e deixar a minha cama vazia por uns anos. Abateu-se sobre ele a consciência de que as nossas conversas, as nossas risadas, as nossas zangas e discussões ficariam confinadas ao telefone, ao e-mail, às cartas (se ele tivesse paciência para me responder) e ao fim-de-semana. E os olhos dele, quase (quase) marejados, contrastavam com as palavras que pareceram consumar factos que ainda estão por se decidir.

O coração apertou-se todo e suspirou para dentro. Ir-me embora? Levar tudo comigo? Nem existe uma justificação lógica para tal, mas uma saudade, em jeito de epifania, fez-se sentir logo ali, ao ouvir os olhos do meu irmão.

“Não! Eu provavelmente entro aqui em Lisboa, não te preocupes…”, respondi descontraidamente, e sorri.

Desapareceram os formigueiros todos de querer sair da toca.
Não há nada como a nossa casa, nem há nada como os olhos de um irmão para nos lembrarem disso. Foi remédio santo, mamã.



P.S. Tirei a fotografia em Santa Justa, e pedi aos meus irmãos que exagerassem o que sentiam. Assim o fizeram.


(*) Palavras da minha mãe após lhe ter explicado o porquê de já não querer sair da área metropolitana de Lisboa.

3 comentários:

Anónimo disse...

Estou a torcer muito!!! ;)

Beijoca grande

Anónimo disse...

a altura decisiva :/
também já falta pouco pra mim..
espero que o Senhor Jesus te coloque onde Ele achar melhor e que tu fiques feliz com isso.
um beijinho muito grande querida (:*

Anónimo disse...

Ir estudar para outra cidade não significa levar a casa atrás (como eu fiz!). A cama vai estar sempre preenchida nas férias, nos fins-de-semana prolongados, os teus irmãos terão onde ir passear, as tuas coisas podem ficar onde estão...
Eu também optei pelo país todo e fui parar à terriola onde estou. E sabes que mais? Por muito formigueiro que sentisse por ir viver longe de casa, nada mas NADA se compara a essa experiência de vida! Tudo ganha uma vida diferente, gerires o teu dinheiro e casa são lições para gerires tudo o resto! Chama-se a isto CRESCER mais um bocadinho! =)

Mas por outro lado, conhecendo a família sei que, ficando em Lisboa e continuares no "ninho", vai ser igualmente bom para ti!

E já falta mesmo muiiitoo pouco!
Pra semana, começa essa minha vida de "estudante a viver na terriola". eheh

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