terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Crónica de encantar

Aos seus olhos ele era um príncipe. Não desses encantados, que cavalgam por verdes campos em esbranquiçados cavalos, envoltos em clichés constantes. Não; para ela, ele era um homem cheio de realeza, nas feições belas, nos modos discretos, nas vestes agradáveis, nas aprazíveis formas do seu corpo inteiro. Emanava ares de príncipe, no sorriso, na voz grave, mas principalmente no trato com os demais, e na humildade com que perfumava o ar que atravessava. Ela deleitava-se com as pequeninas coisas que os enamoramentos recentes costumam agigantar, com o simples facto de se cruzarem num caminho comum, com um sorriso cúmplice trocado no meio da multidão, com palavras ditas num cordial tom… para ela, tudo eram palpitantes pinceladas num quadro cada vez mais interessante de pintar.

Aos seus olhos ela era uma princesa. Saída de um conto de fadas, em total consonância com a idealista perfeição. Tinha o rosto emoldurado por longos cachos louros, um porte bonito, vestidos rodados, sapatos de cristal, prontos a serem deixados numa escarlate escadaria. Gostava de a ver atravessar o seu caminho, graciosa. Por ser um senhor, procurava a maior descrição no modo como se perdia em observá-la. Ele deleitava-se com as típicas coisas que os enamoramentos recentes costumam agigantar, com o seu sorriso doce, e a sua larga gargalhada, com o toque delicado que conseguia deixar em tudo, mas sobretudo, com as certeiras palavras que distribuía cautelosamente, nem demais nem de menos.

Assim se viam, mutuamente, abstendo-se de confissões. Ela por receios femininos, ele por másculos cuidados, ambos pelo adoçante sabor que o platónico sentimento conferia aos seus dias.

Assim se vêem; assim ainda se vão vendo. Até quando aguentarão calando o que os olhos não cessam de gritar?


(É que já todos sabemos como isto vai terminar…)

3 comentários:

Anónimo disse...

Engraçado os contos serem contos num mundo real. Bonita descrição do seu enamoramento. =)

Uma vénia amora*

Rebeca Pascoal disse...

és mesmo fraquinha nisto ahahahah
só posso rir.

Anónimo disse...

Fizeste-me lembra-me de mim e de como eu era feliz a escrever. E tu que escreves tão bem. *