quarta-feira, 16 de junho de 2010

Coração

Foi num dia de Sol (e dezassete anos depois) que encontrei a minha outra irmã. Nós reconhecemo-nos imediatamente, apesar de, primeiramente, termos trocado apenas um cordial aperto de mão. Esta irmã, que me sabe de cor por dentro e por fora, um dia resolveu contar-me. Contar a história do mundo em que eu vivo (só para clarificar).

Eu sei que se atreveu a passar muito pouco daquilo que cogita para as palavras escritas, mas não consigo evitar as lágrimas cada vez que leio esse poucochinho; é que ela conta-me tão bem!... Serei demasiado fácil, ou é a sua grande mestria que não coloca outra hipótese? Eis um breve (muito breve) excerto.

“Embora perfeito,
Foi pintado com uma árvore majestosa, à beira de um rio de águas translúcidas
de onde se conseguiam ver os peixes multicolores e as pedras de vários tamanhos
para lá serem deixadas tristezas.
Pollyanna sentava-se ali, lia o livro
escrevia-se num pergaminho, palavras de oração e
abria um pequeno espaço na terra para ali deixar as lágrimas.
Depois daquilo passeava-se e deixava o seu sorriso
e a sua melodia em cada canto.
As flores nunca a viram triste,
nem as árvores mais pequenas, cujas folhas eram notas
de muitas músicas
nem as borboletas que por ali pairavam
nem os ponteiros do relógio que insistiam que ela se apressasse nas suas
paragens.
Pollyanna era feliz,
mesmo quando estava triste.”


Espero que a minha irmã leia estas palavras e não se zangue (é que não lhe pedi a devida autorização…). Também espero que ela me visite, aqui no meu mundo, junto à árvore majestosa. Para desobedecermos aos ponteiros e partilharmos momentos em que, estando tristes, somos felizes.

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