quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

"Hás de ver, surpreso, quanto Deus já fez"

Ela chora (tanto!). Que dor copiosa, a que invade o coração, que esses olhos inchados e emersos em água e sal instalam. Chora, quase sem cessar. Às vezes os dias passam e ela consegue soltar uma das suas deliciosas gargalhadas, mas na maior parte dos dias, ela chora, muito.

“Conta as bênçãos!”, repito, às vezes para fora, muitas vezes para dentro. Isso ajuda-me a não chorar como ela, é o que me alivia o coração, o que me humilha e me torna grata. “Conta as bênçãos!”, grito, às vezes baixinho, muitas vezes por palavras diferentes. E ela, pobre, chora.

Presumo que eu seja como eles dizem, inocente, infantil, cega para a atroz realidade que vem atrás de nós como um papão para nos apanhar. Mas continuo a contar as bênçãos:

Uma casa, um aquecedor, roupa, botas, ténis, irmãos, irmãs, pais, avós (todos vivos), primos, primas, amigos, amigas, risos, estudos, livros, bibliotecas, canções, computadores, água, perfume, cremes cheirosos, liberdade, a vida eterna, uma igreja, muitas igrejas, internet, palavras, expressões, funcionalidades, canalização, luz, electricidade, autocarros, comboios, barcos, pontes, aviões, céu, nuvens, sol, chuva, guarda-chuvas, casacos, lenços, cachecóis, agasalhos, pentes, cabelos, olhos, mãos, nãos, sims, boca, pés, nariz, cabeça, cérebro inteiro e funcional, pernas braços, coração, incentivos, equilíbrio, Bíblias, devocionais, desafios, frio, quente, phones, mp3, alimentos, doces, salgados, amor, amor, amor, amor, lágrimas, rotinas, coisas inusitadas, felicidade plena, paz, viagens, telefones, dinheiros, banhos quentes…

Podia ficar aqui horas, dias, meses, a contar as bênçãos. Conta as bênçãos; e não chores tanto assim, por favor. Se ao menos soubesses como somos felizes com o tanto que temos… conta comigo; pode ser que te alivie o coração, que te humilhe e que te lembre de quando aprendeste a ser grata.

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