quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Psicologices

Caro leitor e/ou cara leitora:

Espero encontrá-lo/a bem de saúde, pois acredito ser uma bênção. Com o frio intenso que se faz sentir e as numerosas chuvadas que não cessam, estar bem de saúde é com certeza uma mais valia preciosa. Espero também que, se for um estudante, se encontre bem disposto/a e não como a maioria das pessoas desta categoria com quem me cruzei hoje: revoltadas com o facto de as aulas terem começado numa quinta-feira; estas benditas quinta e sexta-feira bem nos podiam ter sido gentilmente oferecidas para mais uns momentos de preguicite. Como não sucedeu tal coisa, e em conformidade com o que ontem escrevi, mais vale tirar partido da situação e aproveitar o que de bom a escola tem (e este ponto deixo ao critério do leitor/leitora).

Voltei então à rotina: ouvir o despertador tocar às seis e meia da manhã e deixar-me dormir até às sete e meia (é a hora de mentalização que me concedo, aquele tempo em que luto contra o ímpeto mandrião que me tenta dominar). Levanto-me e colaboro na preparação dos lanches dos mais pequenos e dos pequenos-almoços, caso seja necessário. Apronto-me, alimento-me e apanho dois autocarros até chegar à escola. Aí assisto às aulas, almoço nos dias em que é impossível vir a casa para o fazer, assisto a mais aulas e regresso para casa com ajuda de mais dois autocarros. Soa enfadonho? Garanto que não o é. Recuso-me a “enfadonhar-me” com os meus dias.

Hoje por exemplo: no primeiro autocarro rimos a bom rir com as peripécias típicas do fim de ano de cada um, pois todos insistem em contar o que de especial se passou e em perguntar que acontecimentos marcaram a festa dos demais. (Nos outros dias encontramos sempre outro qualquer assunto do qual rir, nem que seja o senhor que tira macacos do nariz sorrateiramente, pois não quer ser visto por ninguém. Os autocarros e meios de transportes públicos em geral são fontes inesgotáveis de peripécias e acontecimentos inusitados. Basta não ser sisudo e observar). Durante as aulas o cérebro está ocupado, trabalha, procura soluções para determinados problemas, memoriza e relaciona conhecimentos. Também se dá o caso de existirem aulas mais especiais, como as de psicologia (por exemplo), em que, para além de se assimilar a matéria, também se brinca, também se ri, também se faz palhaçadas (mas num volume pouco audível). E depois, claro, há os tempos mortos, os intervalos, as pausas para almoçar, aqueles momentos de convívio, de socialização, de alguma proximidade (não muita! O que se quer é uma proximidade superficial; nada de coisas que revelem demasiado a essência de cada um).

Como está bem patente, todos os dias parecem iguais, mas todos eles encerram um marco especial que os faz serem menos rotineiros, menos normais. Todos eles são sentidos de diferentes maneiras, sem descurar o mau dia a que toda a gente tem direito. O marco do dia de hoje foi, sem dúvida, a aula de psicologia; não pela parvoíce que reinou em alguns momentos na fila em que me encontrava, mas pelos assuntos ali referidos. Ora veja o caro leitor e/ou a cara leitora se não concorda comigo. Falou-se, entre outras coisas, de cognição social, da maneira como somos levados a conhecer o outro e deixamos o outro conhecer-nos. No limite, a pergunta que foi imposta à turma pelo professor foi a seguinte: será que podemos mesmo afirmar que conhecemos a outra pessoa, o seu verdadeiro íntimo? Ou melhor, será que podemos afirmar que nos conhecemos a nós mesmos? (engraçado, não é Zaqueu?). Não, óbvio que não, e creio não ser necessário alongar-me em grandes explicações sobre a complexidade que é cada ser humano, comum a uma espécie, individual na maneira como constrói o seu universo. Porém, e porque cada um de nós necessita de sentir cumplicidade, amor, empatia, fabricamos matrizes, inserimos cada pessoa em determinadas categorias, que nos conferem uma sensação ilusória de que as conhecemos; dizemos que são simpáticas ou mesquinhas, extrovertidas ou azedas, etc. A sociedade, a cultura que nos afoga em maneiras de fazer, de sentir e de agir, ensina-nos também a pensar que conhecemos alguém, e arranja inúmeras justificações para isso.

Assustador, não é? Pensar que agimos assim (porque agimos!) de forma sossegada e indiferente, não nos apercebendo que nos sentimos bem quando catalogamos pessoas, alegando conhecê-las. E no entanto, é este universo dúbio que caracteriza cada ser, que nos fascina e nos imprime vontade de o conhecer, de o catalogar mais um bocadinho, de nos aproximarmos dele e tentarmos reconhecer nele pistas para algumas coisas que desconhecemos dentro de nós. Assustador, mas fascinante! “O espelho reflecte mas não nos vê; só outra pessoa pode ser um verdadeiro espelho para um ser humano; somente as pessoas nos podem responder com sentimentos (…)” (S. Asch)

Cessam aqui as minhas reflexões. E perdoe-me se puder, caro leitor e/ou cara leitora, a enormidade deste texto.

Um beijinho*
P.S. A fotografia foi tirada em Outubro do ano passado (ahahaha, o trocadilho da época), a uma árvore da escola adjacente à minha.

1 comentário:

Anónimo disse...

Curioso escreveres um post deste num dia em que eu, passei por uma experiencia de "analise psicologica" de um "alguem". (:

Devo dizer que psicologia é um pano para grandes mangas.. e sem me querer alongar em grandes discursos, mas já alongando um pedaço, a minha opinião é de que nunca conhecemos ninguem realmente, nem a nós mesmos.


Gostei imenso, e adoro esta tua nova maneira de expor as coisas.

Keep going, jovem.
bjs *