domingo, 6 de janeiro de 2008

Ser velhinho (ou velhinha, claro!)

Caro leitor e/ ou cara leitora:

É domingo! O dito dia do descanso, aquele em que se está na cama até mais tarde, que se aproveita para descansar (quando existe tempo para tal, como é óbvio). Ao domingo de manhã não é meu hábito ficar a dormir, prefiro levantar-me e ir até à igreja. Não, não é uma igreja católica que frequento; sou membro de uma igreja evangélica baptista. Apesar de me custar levantar da cama cedinho, é sempre preferível passar as horas matutinas de domingo naquela Casa, com aquelas pessoas de quem me fui tornando intima, do que ficar a dormir (cheguei a esta conclusão após ter feito a experiência).

Assim sendo, depois de voltar da igreja, estive a ajudar nos preparativos da chegada dos meus avós paternos, que viajaram para o Luxemburgo e regressam daqui a poucos minutos. Aproveito a pausa entre as lides caseiras e a ida ao aeroporto para relatar aqui um pouco do meu dia e discorrer-me em reflexões. Hoje apetece-me conversar com o caro leitor e/ou a cara leitora sobre velhice. Passo a explicar: as memórias que tenho dos meus tempos de pequena contrastam fortemente com que hoje experimento das vivências dos meus avós. Lembro-me de ligar aos meus avós (aos quatro sem excepção) uma imagem de resistência, sabedoria, energia, originalidade e uma paciência infinita. Lembro-me das minhas avós cuidarem de mim, e de vê-las cuidar dos meus irmãos e primos. Das brincadeiras que tínhamos, das coisas que nos mostravam e das lições que nos transmitiam. Lembro-me dos passeios que dava com os avôs, das histórias mirabolantes que contavam, histórias suas e histórias do mundo. Lembro-me de gostar dos poucos cabelos grisalhos que tinham, da maneira engraçada como a sua pele ficava à volta do olhos e de me sentir segura perante figuras com espíritos tão fortes.

E agora, porque já cresci e já aprendi que também o corpo e a mente se degradam, se consomem e envelhecem, vejo os meus queridos avós a perecem perante o tempo, perante a vida. Vejo as mazelas dos seus corpos, as doenças que os atacam mais vezes, a forma como lhes custa lembrarem-se do que comeram anteontem; a sua energia esmorece, o que outrora foi paciência hoje é um pouco de casmurrice e assim vão ficando até ao fim dos seus dias. Sinto saudades dos olhos que os viam como super-heróis, tão conhecedores de tudo e com tantas soluções. Hoje os meus olhos vêem-nos como almas carregadas de experiência e cérebros cheios de ideias que os seus corpos já não conseguem acompanhar.
A velhice, caro leitor e/ou cara leitora, deve ser uma das coisas que mais me atormenta; sentir o corpo deixar de responder com rapidez, sentir o cérebro funcionar mais devagar por já ter perdido muitos neurónios pelo caminho, sentir a velhice.

Os meus avós não parecem importar-se muito com isso. Sim, ficam todos queixosos quando aparecem as ditas dores e as doenças típicas da idade, mas aproveitam as boas coisas que a velhice traz: os netos, o facto de serem apaparicados por toda a gente, a ajuda dos filhos já crescidos e outras coisas que tais. (entretanto já os fui buscar ao aeroporto, já conversámos e regressei para publicar este texto). Visto ter de aproveitar o tempo que me resta para estar com os avós esta noite, aqui me despeço, caro leitor e/ou cara leitora, com o propósito de voltar amanhã.

Um beijinho*




P.S. A fotografia foi tirada no Porto, no Parque da Cidade, ao capim que lá existe.

1 comentário:

Anónimo disse...

Gostei. (:
Passaste na perfeição a ideia do envelhecer, e todo o medo que vem por arrasto agarradinho ao dito pensamento.

E como para grandes mal grandes remedios, aconcelho esta minha jovem blogueira de eleição, a ouvir "Stop this train" do queridissimo John Mayer. XD

Dá um ânimo particular, e fala dessas coisas da velhice.

Sem mais nada a dizer,
:*