segunda-feira, 15 de julho de 2013

Lição

Céu, Póvoa de S. Cosme

Domingo passado estive à conversa com a M. durante um funeral. Eu e a M. não nos conhecemos muito bem, mas o facto de termos as duas cinco anos de idade fez com que surgisse entre nós uma estranha (e, no entanto, tão singela) empatia. Ela estava muito interessada em conversar sobre o que estava a suceder ali. "O que é que estamos aqui a fazer?". "Mas porquê?". "Porque é que o R. está tão triste?". "Porque é que não estamos a escavar?". "E tu, também tens saudades?". "Porque é que ele já não pode escrever cartas?". Etc, etc, etc. Tentei responder-lhe o melhor que pude, o melhor que soube, e ao fim de muitos minutos de inquirições em surdina, ficou satisfeita.

Trouxe aquela conversa comigo e contei-a, posteriormente, à S. (que também lá estava). A resposta que tive foi a seguinte: "Também lhe podias ter dito o resto - que um dia eles vão estar juntos no Céu." 

E eu fiquei a matutar naquilo.
Pois é, bem podia ter dito à M. o que a S. disse. Mas a M. não queria saber do futuro para nada. Ela só me questionava sobre o instante, o momento, o presente. O inquérito foi longo porque passaram muitos minutos, e a cada minuto surgia uma nova questão, relacionada com aquele minuto que tinha acabado de chegar. Esta lição, já tão antiga, começou a fazer-me mossa no início deste ano, com o Sermão do Monte (e Mateus 6.34 em especial). 
"Não vos inquieteis, pois, pelo dia amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal." (Mt 6.34)
Depois, perto da Páscoa, foram as "Screwtape Letters" do senhor Lewis a aprofundar esta verdade transformadora. 
"The humans live in time but our Enemy destines them to eternity. He therefore, I believe, wants them to attend chiefly to two things, to eternity itself, and to that point of time which they call the Present. For the Present is the point at which time touches eternity. Of the present moment, and of it only, humans have an experience analogous to the experience which our Enemy has of reality as a whole; in it alone freedom and actuality are offered them. He would therefore have them continually concerned either with eternity (which means being concerned with Him) or with the Present — either meditating on their eternal union with, or separation from, Himself, or else obeying the present voice of conscience, bearing the present cross, receiving the present grace, giving thanks for the present pleasure." (C. S. Lewis)  
(ler o resto deste excerto aqui)
E agora, esta pequena, com a sua inocência sábia que surge qual lembrete: "não te esqueças do que tens ouvido". A M. veio recordar-me desta poderosa e transformadora aprendizagem: preocupar-me, sim, com o Presente. Não me admira que eu seja incitada a ser como ela.

1 comentário:

Ana Nunes disse...

Noutro dia li isto: "Practice the discipline of the Present". E em jeito de post-it, já o tenho aqui no computador.